O século XIX trouxe-nos o comboio. E, desconhecendo estudos de custo/benefício é inaugurado em 1 Abril de 1868 o serviço directo de Lisboa a Madrid. Alguns anos mais tarde, em 1887, foi criado o Sud-Express que passou a ligar Lisboa-Madrid-Paris e Calais, com serviço diário, desde em 1906.
Muitas e interessantes histórias haverá para contar sobre esta ligação ferroviária à Europa, muito particularmente sobre a sua importância económica, social e cultural para o nosso país, mas nenhuma história se comparará em enredo, ao que tem sido a discussão sobre a oportunidade do necessário salto qualitativo na ligação ferroviária à mesma Europa, que se arrasta desde finais do século passado, e que tem a ver com a construção de uns cento e tal quilómetros de uma linha para comboios de alta velocidade.
Hoje, quando a França tem cerca de 1.200 quilómetros de TGV e a Espanha constrói aceleradamente uma extensa rede ligando as suas principais cidades, nós centrámos a discussão, como não poderia deixar de ser, na construção desses cento e tal quilómetros como se daí dependesse, ao fim de mais de oito séculos, a nossa salvação ou a nossa ruína.
A irracionalidade da discussão abateu-se sobre o país e a o TGV tornou-se um instrumento de luta partidária e de campanha eleitoral presidencial.
Gastámos rios de dinheiro em estudos, os governos aprovaram e até se comprometeram internacionalmente com a construção de cinco linhas em H e com duas em T. Agora só resta uma, da fronteira até ao Poceirão (nome simpático para pronúncia internacional e grande centro estratégico).
Dirigentes políticos da oposição, sapientes ex-ministros das Finanças e reputados economistas vão ao Presidente da República profetizar o fim do país com a construção de uns cerca de cem quilómetros de linha de comboio necessários à nossa ligação à rede europeia de alta velocidade.
O Presidente da República dá uma lição de macro-economia (?) na visita a uma fábrica de enchidos, para acirrar os ânimos anti-TGV, mesmo depois de ter aprovado o decreto-lei que permite a adjudicação, numa coerência de candidato presidencial em cooperação estratégica com a oposição de direita.
Por mim, ainda gostava de ir a Madrid no TGV, visitar o Prado, nem que tenha de entrar na estação do Poceirão, recordando que por uma vez a esquerda esteve unida na decisão de avançar com este projecto e que essa mesma união se estendeu ao apoio a um candidato presidencial - Manuel Alegre.
Entretanto, e à semelhança do que alguém um dia escreveu no Alqueva, sugiro um simples outdoor, à entrada de Lisboa, com a frase: "TGV Lisboa-Madrid. Construam-me, porra!".
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