sexta-feira, 21 de maio de 2010

O ARGUIDO E O SEU CRIADOR


A comunicação social vai dando notícia do julgamento do presidente da Académica/OAF. Pelo menos é assim, sob este título, que as peripécias do julgamento vão sendo relatadas, ainda que quem verdadeiramente  esteja a ser julgado é um ex-director municipal da Câmara de Coimbra, que também era e é presidente da Académica/OAF.

Obviamente que não é possível dissociar as duas qualidades mas a verdadeira génese da questão está no facto de ter havido uma decisão de cálculo político de alguém - o presidente da Câmara -, que decidiu aproveitar, em beneficio partidário próprio, a vantagem eleitoral de ter junto de si o presidente do principal clube de futebol de  Coimbra e decidiu fazê-lo director municipal. 

O presidente da Académica/OAF não chegou à Câmara de Coimbra, por iniciativa própria,  para despachar processos de obras particulares. Não, ele foi convidado e nomeado pelo presidente da Câmara, num acto consciente para ganhar votos, apesar de todos os alertas quanto ao cocktail explosivo que era juntar futebol, construção imobiliária e poder local.

Os alertas quanto aos potenciais riscos de surgirem problemas com esta solução foram muitos e públicos o que ainda menos desculpa quem resolveu de forma consciente, determinada e oportunista, ir por aí. Aqui não há desculpas ou ingenuidades e hoje se temos um julgamento a decorrer, com o desgaste institucional para a Académica/OAF e para Coimbra isso deve-se  única e exclusivamente ao presidente da Câmara.

Foi o Dr. Carlos Encarnação que, sem sombras de dúvidas, criou as condições para as suspeitas que estão em apreciação judicial. É ele que moral e politicamente "criou" este arguido e é também ele que, por isso mesmo, está a ser julgado.

Mais ainda, perante rumores e dúvidas que foram surgindo o Dr. Carlos Encarnação manteve durante três anos o referido director municipal sem se quer se questionar sobre o que estava a acontecer no seio da Câmara, não exercendo assim o seu dever de zelar pelo bom funcionamento da instituição e pela supervisão funcional e política que é exigida a um presidente.

No meio de tudo isto o Dr. Carlos Encarnação tem-se escondido e fugido às suas responsabilidades, atirando para o presidente da Académica/OAF e director municipal do urbanismo o ónus moral da sua presença na Câmara e para o vereador do urbanismo o ónus técnico-político de ter de o aguentar.  É necessário lembrar e sublinhar que o directo municipal e presidente da Académica/OAF exerceu na Câmara competências delegadas, durante três anos, numa dependência directa do orgão político o que torna conivente o seu presidente com tudo o que se passou.

Por isso, podem alguns omitir, por distracção ou por medo, as verdadeiras responsabilidades pelo vexame que a cidade e a Académica/OAF sofreu e continua a sofrer com esta história de promiscuidades mas é óbvio que em todo este processo há um "fugitivo" que, numa óbvia postura de cobardia política, faz do silêncio a sua defesa tentando passar pelos pingos da chuva e "chutando", como é seu timbre, as responsabilidades para outros sabendo que é ele o verdadeiro causador de toda esta vergonha.

Temos assim um julgamento de que se conhece o arguido sendo no entanto politicamente saudável e necessário não esquecer quem foi o seu "criador", que está  por aí, caladinho como um rato, na expectativa de que não se lembrem dele no Palácio da Justiça e nas ruas da Cidade.

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