Há uns tempos o Ministro das Finanças afirmou publicamente que, neste momento de crise, a nossa economia tinha demonstrado uma grande resiliência.
Como o tenho por um homem competente e sério, que não diz coisas à toa, fiquei a saber que a nossa economia estava a reagir bem à "má sorte" que abalava a economia mundial, que demonstrava elasticidade, capacidade de recobro e de rápida recuperação e adaptação, num contexto de grande indefinição e turbulência.
Depois daquele dia ainda ouvi o primeiro-ministro usar o mesmo termo - um conceito da física mas usado na psicologia e no mundo dos negócios - tendo ficado convencido de que havia finalmente uma perspectiva de retorno a "alguma normalidade" económica e financeira.
Contudo, passadas algumas semanas parece-me ter-mos chegado a um intrigante ponto de incerteza - porque nos confrontamos com um quadro de total irracionalidade - em que não se percebe se vamos cair no descalabro absoluto ou se está em curso uma inversão sustentada da situação graças à tal resiliência económica.
Esta dúvida, sustentada fortemente no facto de todos os dias vermos desmentidas na prática as afirmações da véspera e não tendo o hábito colectivo da reflexão, da procura prospectiva de soluções e de planeamento e organização, leva ao sentimento de que a salvação parece estar cada vez mais no aprofundamento das nossas tão apregoadas características idiossincráticas - o desenrascanço -, e, como tal, que os problemas se resolvem com soluções tipo MacGyver.
Ora, as crises são importantes janelas de oportunidade para realizar mudanças e transformações, implicando, contudo, a consciência colectiva de que é preciso mudar de vida e não é possível continuar no caminho até agora trilhado.
Assim sendo, este seria um importante momento de transformação mudança que exigiria, no entanto, duas coisas: primeiro, uma forte liderança política - entendendo-se que uma liderança forte é uma liderança ética; segundo, que a generalidade dos políticos com efectivas responsabilidades executivas soubessem andar de bicicleta, isto é, que tivessem a capacidade de "pedalar" olhando para a frente, de cabeça levantada, e não aos ziguezagues preocupados com os pedais.
Não parece que seja pedir muito, mas no nosso país talvez seja pedir o impossível, tanto mais que há precisamente um combate político assente na descredibilização ética dos principais protagonistas e, a nível geral, há uma sensação de que o exercício político assenta em duas fotografias mensais nos jornais e três promessas semanais aos crédulos "clientes" que integram o respectivo sindicato de voto.
Aqui chegado fico-me com a dúvida de saber se mais do que uma economia este é um país resiliente e, sobretudo, se será possível transformar este país "soluções MacGyver", num país sólido, económica, social e politicamente desenvolvido e equilibrado.
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