quinta-feira, 6 de maio de 2010

O GRANDE COOPERANTE E O CANDIDATO NAÏF


Cedo se percebeu que a dita "cooperação estratégica" não passava de um envenenado presente político do Presidente Cavaco Silva ao Governo e, particularmente, ao Primeiro-ministro.

No fundo, o que estava e tem estado em causa, é uma mistificação, "vendida" pelo discurso presidencial, que deixa transparecer que, graças à "cooperação estratégica", os únicos actos "bons" do governo são aqueles que acontecem por influência do Presidente.
 
O que a prática tem vindo a demonstrar é que há um projecto presidencial de governação que se traduz num arremedo de co-gestão governamental, que transcende o magistério de influência e incorpora o magistério executivo na componente presidencial.

Os mais cépticos da sublinhada postura presidencial sempre desconfiaram que havia alguma coisa para além de uma  bondosa sessão de trabalho às quintas-feiras em Belém, entre o Presidente e o Primeiro-ministro e, passado algum tempo, começaram a perceber que nos restantes seis dias da semana havia uma irradiação programática que partia de Belém e se envolvia em influências e decisões que consubstanciavam uma verdadeira cooperação estratégica com personalidades e partidos da oposição, em divergência com as opções políticas governativas.

Se há, e sempre houve, uma tendência dos inquilinos de Belém para influenciarem as políticas governamentais, no caso presente houve uma designação especifica - num assumido marketing político - que tentou, mais do que clarificar posições, esconder propósitos.

Hoje, tudo isto é por demais evidente e, porque as eleições presidenciais estão aí, será bom olhar com clareza para as afirmações e para os propósitos dos candidatos não deixando de escrutinar devidamente as nuances semânticas dos discursos com que tentam esconder os seus reais propósitos.

O candidato Cavaco Silva, pese tudo o que irá dizer, já demonstrou que não é um "leal conselheiro" mas sim o "grande cooperante" que assume a intervenção presidencial em nome de um projecto político de cariz executivo, com componentes especificas de governação, com uma leitura própria da Constituição e uma procura de interferência directa e dirigista  nas políticas sufragadas em eleições legislativas. 

É, por isso, preciso, no contexto de dificuldade que vivemos e no começo de um século que se aguardava luminoso e se tem revelado desastroso, escolher uma alternativa ao cinismo, mascarado de pragmatismo, do "grande cooperante" e à impreparação evidente de um respeitável candidato naïf, que aparece quase como uma encomenda, e essa escolha só pode ser a de Manuel Alegre.

É imperioso que o PS perceba isto e se decida rapidamente porque há uma angustia desgastante que politicamente não lhe traz qualquer benefício tanto mais quando esta é a opção certa e possível.

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