Vivemos
os dias das notícias falsas e por isso, sabendo da resistência da
administração central a fazer qualquer obra relevante em Coimbra e
lembrando-nos dos dramas de conceção
e de construção que viveram as poucas que foram realizadas nas
últimas décadas, é de desconfiar quando nos dizem que vai ser
construída aqui uma nova maternidade.
Parece,
no entanto, que é uma inevitabilidade técnica e por isso vamos
adquirir como boa essa informação, conscientes no entanto de que
haverá significativos obstáculos a vencer para fazer uma obra de
qualidade, uma vez que não fazemos parte de nenhuma das duas
queridas
áreas
metropolitanas que
consomem a maioria dos recursos financeiros do país.
Construir
uma maternidade é uma decisão de enorme importância e
responsabilidade, em que devem ser considerados múltiplos
parâmetros, dado que se está a decidir sobre o local de nascimento
de
todos os futuros. Há, portanto, uma arquitetura global das
instalações e equipamentos que tem de ser pensada de forma especial
porque ela é qualificadora daquilo que somos hoje e do que
pretendemos ser amanhã como sociedade
e cidade,
e
os decisores técnicos e políticos terão de
ter consciência
disso.
Foi
por isso estranho que na noticia do lançamento da obra fosse
referida
como
hipótese de localização o campus
dos HUC. Ora quem conhece o espaço envolvente daquele hospital deve
ter ficado com os cabelos em pé. Não é possível ser verdade e se
for verdade não estão
a falar de
uma nova maternidade mas
de um serviço partos,
e
mesmo neste caso, será
um acrescento dramático num espaço saturado, sem qualidade, com
acessibilidades e circulação saturada e anárquica, que
só irá contribuir para degradar ainda mais o ambiente circundante
dos HUC.
Para
justificar a construção nas imediações dos HUC têm sido aduzidos
respeitáveis argumentos técnicos a que têm sido contrapostos
outros respeitáveis argumentos, que apontam a localização, por
exemplo, na proximidade do Hospital dos Covões onde existe espaço
com dimensão e possibilidades de uma obra com enquadramento de
qualidade.
Por
outro lado há condições técnicas no Hospital Covões para
equacionar os necessários apoios à maternidade isto se, e aqui
surge o tal se, se
a ideia não for ir esvaziando o Hospital dos Covões até o
lavar ao encerramento.
Resta
acrescentar que também
há
a
ideia de que a localização na margem esquerda, em São Martinho do
Bispo, é para alguns inconcebível porque, quer se queira quer não,
há por aqui um centralismo urbano que só entende a cidade na
margem direita.
Uma
coisa é certa, pensar em construir uma maternidade no campus
dos
HUC só pode ser uma notícia falsa e
se alguém está
a considerar essa hipótese então
os autarcas, os partidos e as forças políticas locais
tudo devem fazer para evitar mais este crime de lesa futuro de
Coimbra.
(Artigo publicado no Diário de Coimbra em 22 de março 2018)
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