quinta-feira, 8 de março de 2018

SE AS LAMPREIAS VOASSEM


Se bem me lembro, nas últimas décadas, o grande consenso para a realização de uma obra pública em Coimbra foi a construção de uma escada para peixes no Açude-Ponte.

Foi bom de ver a unidade político-partidária na defesa das lampreias do Mondego e na criação de condições à sua adequada desova, o que diga-se foi muito mais fácil do que é agora encontrar um consenso e uma defesa articulada para a construção de uma nova maternidade.

Para mais a obra, contrariamente ao que é habitual por aqui, não levantou problemas nem suscitou criticas dignas de reparo e até o facto da monitorização do equipamento estar a cargo de uma equipa da Universidade de Évora não foi motivo de contestação.

Vem esta memória a propósito da necessidade de encontrar um consenso político alargado sobre as grandes obras públicas a considerar após o Portugal 2020, tal como o governo vem repetidamente sublinhando. É óbvio que um entendimento sobre investimentos públicos estruturantes implica um entendimento sobre o país que queremos ser.

Assim, se continuarmos a promover uma solução bipolar, em que Lisboa e Porto são os dois grandes centros urbanos, determinantes a nível económico e político, então não merece a pena estarmo-nos a preocupar. Contudo, se entendermos que há algo mais a fazer e que o Centro não é uma periferia de Lisboa ou um arrabalde do Porto, e que há uma realidade física, cultural, social e económica, que precisa de ser decisivamente considerada e valorizada, então este é o momento de expressar um pensamento a este respeito e de unir esforços no sentido da sua aceitação.

Nas últimas eleições autárquicas o grande tema – controverso mas que tudo indica rendeu votos – foi o da transformação do aeródromo Bissaya Barreto numa aeroporto comercial. Ora um aeroporto comercial em Coimbra só será viável e terá os necessários apoios financeiros numa perspetiva regional. Há um óbvio problema de escala, de massa critica, que suplanta uma proclamação política.

As empresas que funcionam, cada vez mais, a uma velocidade estonteante considerarão sempre o tempo que os seus gestores, técnicos e clientes levam em deslocações e por isso a existência de um aeroporto é uma condição de fixação e de investimento num determinado território. Os próprios empresários locais e das cidades e territórios vizinhos de Coimbra, que sentem as agruras de demorarem mais tempo nas deslocações à capital do país do que a Bruxelas, são decerto sensíveis a esta questão.

Coimbra, está por isso, perante o desafio urgente de demonstrar, apesar de uma ancestral competição localista, que é capaz de unir esforços e obter o acordo e o empenho de uma região - das cidades e das comunidades vizinhas e dos seus agentes económicos - para levar à prática a sua proposta política-eleitoral de transformação do aeródromo Bissaya Barreto num aeroporto comercial. É agora ou nunca!

O que a experiência demonstrou, é que não haveria dificuldades se as lampreias voassem.

Sem comentários:

Enviar um comentário