Na nossa vida partidária vive-se uma estranha situação que faz lembrar o "dilema do prisioneiro", um problema da Teoria dos Jogos - John Nash que me perdoe meter-me por estes caminhos -, em que cada jogador, de modo independente, tenta aumentar ao máximo a sua vantagem sem se importar com o resultado do outro.
Com efeito, olhando para a acção política dos partidos com assento na Assembleia da República, tem de se considerar, no mínimo estranho, que havendo uma maioria de esquerda ela se encontre "prisioneira" de uma direita minoritária, não por força desta mas porque cada um dos partidos de esquerda tenta aumentar ao máximo a sua vantagem sem se importar com o resultado do outro que se situa no mesmo espectro partidário.
Veja-se que o PS governa em minoria porque nenhum dos partidos de esquerda aceitou participar no governo, levando assim a uma situação de "soma nula" para a esquerda. Mas mais. Hoje considera-se que o governo só não cai porque a direita não quer, dado que há a certeza de que uma moção de censura do PSD colheria não só o apoio do CDS como a abstenção do PCP e do BE ou mesmo o seu apoio.
Isto é, a força parlamentar da direita resulta do "aprisionamento" da esquerda pela sua incapacidade de diálogo e de concertação resultante da convicção de que um entendimento seria prejudicial para as partes. Temos portanto aqui uma situação de "soma nula" à esquerda, em que cada um tenta aumentar a sua própria vantagem em detrimento não só do outro mas de uma política global de esquerda para o país.
Ver a esquerda prisioneira voluntária da direita, sabendo que não é possível perspectivar uma saída consentânea com o sentir da generalidade dos cidadãos expresso nas urnas, é qualquer coisa de doloroso e incompreensível.
É uma realidade que tem tanto de "natural", para quem conhece a nossa história política partidária, como de bizarro e em que está patente uma situação de perturbante esquizofrenia que nem a mente brilhante de John Nash saberá resolver.
Será que, no nosso país, algum dia a esquerda se conseguirá libertar da direita, pondo fim ao "dilema do prisioneiro"? Quem souber que responda.
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