segunda-feira, 5 de julho de 2010

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 64


Poupar-se a desgostos.

É útil e sensato evitarem-se desgostos. A prudência evita muitos: é a Luciana do êxito e, por isso, também do contentamento. Não se devem dar más notícias, a ainda menos recebê-las; devem ter interdita a entrada, a não ser a do remédio. A alguns corrompem-se-lhes os ouvidos ao ouvir muitos elogios doces, e a outros ao escutar muitos mexericos desagradáveis. Há quem não saiba viver sem alguma agrura quotidiana, como Mitrídates sem veneno. Também não se deve manter a regra de, por querer agradar a outrem, por próximo que seja, causar-se a si próprio um desgosto para toda a vida. Nunca se deve pecar contra a própria felicidade para agradar ao que aconselha e permanece alheio. Em qualquer eventualidade, sempre que se oponham agradar a alguém ou causar-se a si próprio um desgosto, é lição proveitosa a que diz que mais vale que o outro se aborreça agora, que tu mais tarde e sem remédio.

A Arte da Prudência
Baltasar Gracián

1 comentário:

  1. Exmo Senhor!
    Os meus parabens pelo excellent Blog.
    Sera que poderei "postar"....algumas das suas belas "missivas"...num Blog onde colaboro. O Cabrito do Sico....
    Cordiais saudacoes
    Jose Leitao
    @JLEITAO-NYC

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