segunda-feira, 8 de novembro de 2010

POR AMOR DAS CIDADES


Apesar de já ter uns anos (1997) a obra "Por Amor das Cidades - Conversas com Jean Lebrun" de Jacques Le Goff, merece a pena ser revisitada.

Para aguçar o apetite transcrevo o começo da "Conclusão o fim da cidade ou a cidade sem fim.":

"Baudelaire disse: "A forma de uma cidade muda mais depressa, infelizmente, do que o coração de um mortal." No entanto, a continuidade está marcada em certas formas. A Idade Média deu à cidade, ou à maioria das cidades, um espaço rodeado de muralhas cuja traça subsiste mesmo depois dos muros terem desaparecido. Por outro lado, mantém-se a mesma disposição entre uma cidade propriamente dita, o que na Idade Média se chamava cité, e os burgos que se tornaram a seguir os chamados faubourgs; portanto, a articulação centro da cidade-bairros-suburbúbio. A função política, para a cidade de hoje, reveste mais importância do que na Idade Média. À época, a cidade como centro de poder não exerceu o domínio que seria de esperar. Frequentemente, o poder situava-se num lugar mais ou menos dissociado da cidade, o palácio, o castelo, um pouco afastado. Paris só se impôs com a Revolução francesa. E o mesmo se pode dizer de outros países que não a França, onde o estatuto das capitais só tardiamente se cristalizou. O papel de centro monetário financeiro que entenda-se, se afirmará com o capitalismo, surge na Idade Média e prossegue. A cidade é sempre o lugar de reunião e de irradiação dos peritos em leis. Também lá se encontram os poderosos e os dotados de inteligência e de cultura: é sabido que a riqueza não é o único critério de poderio urbano. Contudo, uma grande parte destas funções, desta imagem, é hoje posta em causa, tal como antes era posta em causa a função de produção artesanal e depois industrial da cidade.

Considere o papel festivo da cidade, que deveria manter-se parte integrante da sua função cultural. Acabo de receber a lista dos festivais de música da Primavera-Verão 1997, quase todos se realizam em quintas, em antigos conventos mais ou menos isolados, afastaram-se da cidade. A festa sai da cidade, da grande cidade, sobretudo. Quase diria o mesmo quanto à educação. Permanece ainda, em grande parte, nas cidades, mas muitas instituições situam-se fora.

Neste aspecto, os Estados Unidos deram-nos o exemplo de todas essas falsas cidades que não passam de campus com pouca coisa em redor. Princeton não é verdadeiramente uma cidade. Onde se constrói aeroportos e estádios, não é fora das cidades? Muitas vezes, precisamente onde os estudantes da Idade Média se permitiriam fazer piqueniques..."

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