quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O PRIMEIRO ACTO

 
Na tomada de posse como presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra fiz a seguinte intervenção: 

"Permitam-me que, em nome da Direcção a que passo a presidir, comece por expressar o reconhecimento pelo trabalho dos membros dos órgãos sociais que hoje terminaram funções, na pessoa do Sr. Coronel Ribeiro de Almeida, do Sr. Dr. Fausto Garcia e do Sr. Hermínio Palmeira.

A sua generosidade e empenhamento em prol desta instituição são um exemplo que nos orientará na nossa acção.

Depois, quero saudar os sócios desta Instituição, que a continuam a ver como uma referência e a manterem-se fieis aos seus desígnios, e uma saudação muito especial aos sócios beneméritos, pelo contributo decisivo que dão à sua subsistência.

Também seria impossível não manifestar perante vós o profundo reconhecimento aos bombeiros voluntários que integram o Corpo de Bombeiros desta Associação, pela sua dedicação, disponibilidade, esforço e competência na defesa e salvaguarda diária de pessoas e bens. São o nosso orgulho e a nossa bandeira. São o grande pilar da causa humanitária que levou à constituição da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra.

Ao seu Comando e na pessoa do Comandante Nobre uma saudação muito especial.

Não posso, finalmente, deixar de agradecer à comunicação social a forma como acompanha a vida desta instituição e tem dado a conhecer os seus problemas, os seus anseios e o seu trabalho quotidiano. Aos senhores jornalistas aqui presentes o nosso muito obrigado.

Sou um homem de sorte porque mais uma vez fui convidado para um desafio difícil. São os desafios difíceis que verdadeiramente merecem ser enfrentados. Depois de muitos anos de intensa actividade, quando estava “posto em sossego”, vieram o Sr. Coronel Ribeiro de Almeida e o Sr. Dr. Fausto Garcia convidar-me para assumir uma candidatura a este cargo, convite que veio a merecer a concordância e o apoio dos restantes membros dos órgãos sociais que agora terminam o seu mandato.

Fizeram-no não porque eu seja “o mágico” que vai resolver de uma assentada os problemas existentes, mas porque acreditam que sendo alguém que gosta de Coimbra e que tem um currículo de serviço público, será capaz de assumir um compromisso de futuro com os Voluntários de Coimbra, honrando o seu passado.

Eu, pela minha parte, “arrastei” para este desafio um conjunto de cidadãos, com diferentes competências técnicas e experiências profissionais, que têm em comum o amor a Coimbra. Sabem que apenas os esperam incómodos e preocupações mas aceitaram e por isso lhes estou imensamente grato.

Assim, está perante vós uma equipa, com uma enorme vontade de trabalhar e em que todos os seus membros afirmam solenemente pela sua honra que cumprirão com lealdade as funções para que foram eleitos.

Parafraseando Napoleão, direi que quando olhamos para estas paredes se sente que cento e vinte e um anos de história nos contemplam. E isso implica um enorme sentido de responsabilidade. Não é impunemente que se assume a Direcção desta instituição, para mais num contexto global de grandes dificuldades.

Mas os dados estão lançados. Não nos resta mais do que arregaçar as mangas e começar a trabalhar.

A grande questão, que nos últimos vinte anos tem estado no centro das atenções e motivado intervenções, como a protagonizada na Sessão Solene do Centenário, em Abril de 1989, pelo presidente da Assembleia Geral de então, Dr. Fausto Correia – um grande bombeiro voluntário de Coimbra –, é o quartel.

A questão do quartel tornou-se, aliás, numa típica questão coimbrã. Uma questão que se discute e para a qual se vão encontrando soluções que nunca acabam por acontecer. O tema do quartel dos voluntários de Coimbra daria uma boa história de aventuras do famoso Barão de Munchhausen com o título do “Quartel Voador”, dado que é um quartel que hoje fica aqui, amanhã vai para ali e no dia seguinte noutro sítio, no meio de múltiplas peripécias.

É portanto inevitável que a questão do quartel – apesar do problema central com que nos debatemos seja o da sustentabilidade institucional –, mereça da nossa parte uma atenção especial, sendo certo que não vamos procurar mais uma solução para o quartel, vamos, isso sim, encontrar a solução para o quartel.

Será a solução decorrente duma análise e de uma avaliação que queremos fazer com a colaboração dos sócios, dos cidadãos de Coimbra e das mais diversas instituições públicas e privadas, no contexto da definição de uma estratégia global, tendo, no entanto, como pressuposto que esta Direcção entende que a AHBVC e o Quartel dos Bombeiros Voluntários deve continuar na Baixa.

É que sair da Baixa é contribuir para a sua morte!

Aliás, sinto que há um apelo, vindo das ruas da Baixinha, de que não a abandonemos. Até o “Packard” – o pastor alemão que é mascote da Corporação e que parece sofrer do mal de nostalgia – já me terá tentado dizer que se o levarem daqui morrerá mais depressa.

Aliás, aconteceu que, por estes dias, estive a reler um breve escrito do filósofo francês Jacques Derrida sobre as “Cidades Refúgio”, tendo ficado com a convicção de que esta Associação e o Quartel dos Voluntários são uma “instituição refúgio” da cidade, cuja existência faz todo o sentido neste espaço urbano e que no dia em que daqui saísse deixaria um vazio e uma ferida irremediável.

Sabemos que há compromissos assumidos de boa fé, em nome de instituições de bem. Não os vamos deitar para o caixote nem desonerar os seus signatários, mas temos de pensar o futuro à luz da defesa dos superiores interesses da cidade e da AHBVC e é nesse quadro que vamos encontrar a solução mais adequada. É aqui que vamos projectar um quartel moderno e funcional, digno de uma cidade que se diz do conhecimento.

Vamos dar inicio à nossa actividade neste contexto de urgência relativamente ao quartel mas em que a primeira necessidade – peço-lhes que registem – é a de garantir a sustentabilidade da Associação e, por isso, não posso deixar de vos fazer um apelo a que nos ajudem.

Precisamos de mais sócios e precisamos de mais sócios beneméritos. Precisamos de apoios institucionais mas também de apoios individuais, porque só dessa forma poderemos garantir o indispensável nível de operacionalidade que nos permita actuar com rapidez e eficácia.

Coimbra é uma cidade especial e particular no que diz respeito aos riscos que enfrenta. O primeiro e não menor, é o da própria inconsciência colectiva relativamente às questões de segurança, dado que a generalidade dos seus cidadãos não se apercebe do tipo e dimensão de problemas que a cidade apresenta com a sua orografia, a sua riqueza monumental, o seu tecido urbano, os seus estabelecimentos universitários – com o imenso espólio de que dispõem – os seus estabelecimentos de saúde –, o seu Mondego, os seus 13.000 hectares de terrenos arborizados, etc., etc., etc.

Os cidadãos de Coimbra dormem descansados porque sabem que há quem vele por eles. Os Bombeiros Voluntários de Coimbra gostariam de estar descansados com a certeza de que os apoiam e os reconhecem como um pilar fundamental da estrutura de protecção civil que lhes garante segurança, tranquilidade e, consequentemente, qualidade de vida.

Há uma relação da cidade com os seus bombeiros voluntários que tem de ser rapidamente alterada. Pela nossa parte vamos melhorar o nosso processo de informação e de comunicação e vamos promover iniciativas de índole cultural, desportiva e recreativa que, aliás, fazem parte dos objectivos inscritos nos nossos Estatutos, de modo a conseguir uma maior visibilidade e um melhor conhecimento da nossa realidade.

Esperamos que a cidade, por seu lado, corresponda e nos ajude, porque aqui se trabalha voluntariamente “A Bem da Humanidade”.
"

1 comentário:

  1. Parabens. E que esta força agora demonstrada e certamente bem conhecida pelos conimbricenses, nunca lhe falte. Coimbra merece. Os Bombeiros merecem.

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