Por
estes dias vivem-se memórias. Lembram-se familiares, amigos,
conhecidos ou simplesmente rostos com que nos cruzámos e que já não
estão entre nós.
Entre
as celebrações religiosas e os apelos comerciais do halloween
anglófono, somos convocados a momentos de recolhimento em que
recordamos os seres humanos que partilharam as nossas circunstâncias
e foram decisivos na consolidação daquilo que somos.
Colectivamente
temos o hábito de lembrar e elogiar as qualidades e os méritos
daqueles que vão partindo esquecendo as coisas menos positivas, que
tantas vezes nos incomodaram ou actos que protagonizaram e que
reprovámos.
Não
penso que isto aconteça por hipocrisia ou mero ritual social mas, na
verdade, a consciência de que perdemos um ser humano que em vida nos
acompanhou, que fez parte do nosso tempo e porque sentimos de modo
especial que a nossa vida tem um fim.
Talvez
nestes dias possamos também reflectir se soubemos considerar e
aproveitar plenamente, até ao fim das suas vidas, as capacidades,
qualidades e méritos de todos os que recordamos e que nos aprestámos
a elogiar quando já não é possível fazer nada.
Estabelecemos
burocraticamente um tempo de vida útil, equiparámo-nos a uma
máquina, a um qualquer equipamento, a um electrodoméstico, etc.;
esquecendo as características humanas pessoais, os conhecimentos, a
experiência acumulada, a sabedoria e a vontade e disponibilidade
cidadã, desperdiçando, por isso, a partir de certo momento da vida
de cada um de um somatório de saberes que poderia contribuir muito
positivamente para o bem comum.
Coimbra
é sem dúvida paradigmática neste aspecto. Sem medo de errar, penso
que será a cidade do país que, em percentagem per capita, terá
maior número de cidadãos com formação superior reformados,
aposentados e jubilados, relativamente à sua população, graças à
sua dimensão demográfica e fruto da composição do seu tecido
económico, em que o ensino superior e os serviços altamente
especializados assumem especial relevância.
Ora,
acontece que, anualmente, entram aqui na situação legal de
reformados dezenas de cidadãos que ficam proibidos de ser activos
úteis. É verdade que muitos procuram um envelhecimento activo e
continuam a fazer coisas úteis para a comunidade, mas não há
dúvida que a cada ano que passa se desperdiça um imenso e precioso
capital humano de experiência e de saber.
O
problema não é apenas de Coimbra, é geral. Mas não poderíamos, a
nosso nível, tentar encontrar soluções institucionais criativas de
aproveitamento da disponibilidade de tantos desses cidadãos para
colaborar na permanente construção da nossa cidade?
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