O SURPREENDENTE PAÍS REAL
No
suplemento de Economia do semanário Expresso do passado sábado, é
publicado um curioso artigo: “Concelhos de pobres, carros de rico”,
em que é feita uma análise comparativa, com base em dados oficiais,
entre o nosso parque automóvel e o rendimento declarado pelas
famílias.
Por
essa análise circunstanciada conclui-se que Felgueiras é concelho
que tem maior concentração de carros de luxo e premium (L&P)
face ao total (28%) seguido de Miranda do Douro e Montalegre (27%),
Pinhel (26%), Oeiras e Aguiar da Beira (25%).
Mais,
neste segmento de carros L&P há 168 municípios onde há um
número de carros superior à média nacional - que é de 1,2 carros
por €100 de rendimento declarados -, destacando-se Montalegre
(2,7), Aguiar da Beira (2,6), Vila Verde (2,4), Póvoa de Lanhoso,
Oeiras e Felgueiras (2,).
E,
ainda, dos 140 concelhos com menos rendimento declarado ao Fisco por
habitante 69 estão entre os primeiros de carros L&P por
habitante.
Como
por aí se pode ver é no norte e cento do país, em municípios
considerados deprimidos e abandonados – o dito país real -, e em
que os cidadãos são apresentados como idosos e pobres, que há um
parque automóvel que supera significativamente o dos cidadãos dos
municípios mais ricos.
Como
explicar isto? Há várias respostas, algumas que exigem a nossa
imaginação, mas o que se verifica é que o afastamento das grandes
áreas urbanas e, nalguns casos, a vida simples, pastoril e de alguma
agricultura de subsistência são sinónimo de sucesso em carros de
topo de gama.
Há,
contudo, algumas situações mais claras e que se compreendem bem,
como é o caso de Felgueiras, em que os carros L&P são 28% do
parque automóvel local, e é também o 9º concelho do país com
mais Ferrari por habitante e o município onde há mais Porsche e
Jaguar por cada milhão de IRS pago, porque há aí uma relevante
actividade industrial.
Claro
que em muitos casos os carros estão em nome das empresas e não dos
empresários que os utilizam e que se queixam das dificuldades
económicas que vivem e que apelam repetidamente ao Governo por mais
e mais apoio, ao mesmo tempo que contestam a decisão de aumento do
salário mínimo para uns astronómicos 635 euros mensais.
Vivendo
uma situação de apregoada necessidade de coesão territorial,
através do reforço da coesão económica e social, parece que temos
de considerar uma situação de coesão automóvel e sobretudo de
justiça fiscal, para pôr cobro aquilo que os técnicos designam por
efeito “Manuel Damásio” - declaração sistemática às Finanças
do salário mínimo, como rendimento.
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