quinta-feira, 28 de novembro de 2019


O SURPREENDENTE PAÍS REAL

No suplemento de Economia do semanário Expresso do passado sábado, é publicado um curioso artigo: “Concelhos de pobres, carros de rico”, em que é feita uma análise comparativa, com base em dados oficiais, entre o nosso parque automóvel e o rendimento declarado pelas famílias.

Por essa análise circunstanciada conclui-se que Felgueiras é concelho que tem maior concentração de carros de luxo e premium (L&P) face ao total (28%) seguido de Miranda do Douro e Montalegre (27%), Pinhel (26%), Oeiras e Aguiar da Beira (25%).

Mais, neste segmento de carros L&P há 168 municípios onde há um número de carros superior à média nacional - que é de 1,2 carros por €100 de rendimento declarados -, destacando-se Montalegre (2,7), Aguiar da Beira (2,6), Vila Verde (2,4), Póvoa de Lanhoso, Oeiras e Felgueiras (2,).

E, ainda, dos 140 concelhos com menos rendimento declarado ao Fisco por habitante 69 estão entre os primeiros de carros L&P por habitante.

Como por aí se pode ver é no norte e cento do país, em municípios considerados deprimidos e abandonados – o dito país real -, e em que os cidadãos são apresentados como idosos e pobres, que há um parque automóvel que supera significativamente o dos cidadãos dos municípios mais ricos.

Como explicar isto? Há várias respostas, algumas que exigem a nossa imaginação, mas o que se verifica é que o afastamento das grandes áreas urbanas e, nalguns casos, a vida simples, pastoril e de alguma agricultura de subsistência são sinónimo de sucesso em carros de topo de gama.

Há, contudo, algumas situações mais claras e que se compreendem bem, como é o caso de Felgueiras, em que os carros L&P são 28% do parque automóvel local, e é também o 9º concelho do país com mais Ferrari por habitante e o município onde há mais Porsche e Jaguar por cada milhão de IRS pago, porque há aí uma relevante actividade industrial.

Claro que em muitos casos os carros estão em nome das empresas e não dos empresários que os utilizam e que se queixam das dificuldades económicas que vivem e que apelam repetidamente ao Governo por mais e mais apoio, ao mesmo tempo que contestam a decisão de aumento do salário mínimo para uns astronómicos 635 euros mensais.

Vivendo uma situação de apregoada necessidade de coesão territorial, através do reforço da coesão económica e social, parece que temos de considerar uma situação de coesão automóvel e sobretudo de justiça fiscal, para pôr cobro aquilo que os técnicos designam por efeito “Manuel Damásio” - declaração sistemática às Finanças do salário mínimo, como rendimento.





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