Não
sei se há algum ranking das cidades mais festivaleiras. Decerto que
a nível internacional as nossas cidades ficariam bem classificadas e
num ranking nacional Coimbra também não deve ficar nada mal.
Haver
festa é bom, faz bem, é preciso. Claro que o ideal será haver
momentos festivos integrados num contexto de permanente qualidade de
vida. O que parece é que em muitos casos se fazem festas para que a
alegria momentânea esconda alguma da tristeza permanente.
Aliás,
quando consultamos os rankings de qualidade de vida e os inquéritos
aos cidadãos dos diversos países sobre felicidade encontramos nos
primeiros lugares os países nórdicos e isso não tem a ver com a
existência ou a falta de festas, mas sim com um conjunto de
indicadores positivos de natureza económica, social e política.
Mesmo
quando se fala em cidades inteligentes e criativas não me lembro de
ver entrar na classificação o número de festas que organizam. O
mérito estará num investimento inteligente e numa criatividade bem
aproveitada.
Mas
também é verdade que há festas e festas. Muitos festivais são
organizados por empresas que cobram entradas e como tal são um
negócio como qualquer outro. Agora o que me parece estranho é que
num país, que se debate com tantas dificuldades sociais e económicas
e a falta de importantes infraestruturas, haja tantas festas
suportadas com dinheiros públicos.
É
sem dúvida uma opção estranha, concretamente parte dos municípios,
porque estando os autarcas mais próximos das populações e
conhecendo melhor as suas necessidades são os maiores promotores
festivos. Será que as principais reivindicações dos cidadãos têm
a ver com a necessidade de festas?
Obviamente
que há quem entenda que esta política festiva rende votos e há um
conjunto de empresas e empresários que ganham com este arraial.
Aliás, as próprias televisões aproveitam esta “generosidade
festiva” das Câmaras Municipais para os longos programas de fim de
semana com que enchem as suas grelhas, poupando recursos e obtendo
ganhos para os seus acionistas.
Neste
momento, como vem sendo habitual e já está anunciado, está em
curso uma grande operação, que envolve a competição entre
municípios e cidades, para ver quem organiza a “melhor” festa de
passagem de ano. É uma competição que, nalguns casos, leva a uma
mobilização de meios e gasto de dinheiros municipais
verdadeiramente desproporcionada em relação ao investimento
realizado anualmente na cultura, no desporto, em equipamentos
sociais, etc.
Repetindo
o modelo do ano passado, em que gastou mais de 300.000 euros, a
Câmara de Coimbra vai organizar uma festa de passagem de ano que
conta com 4 palcos, em simultâneo, na zona da Baixa e fogo de
artificio no Mondego. Ora se o ano passado os cidadãos de Coimbra
pagaram, em média, 100.000 euros por hora para uma festa, este ano,
dado o mesmo figurino, não deverão pagar menos.
Fazer
uma festa, aberta a toda a gente, que tem como objectivo celebrar um
momento e que no fundo se esgota nesse mesmo momento é
verdadeiramente excessivo e não merece a pena falar em investimento
na revitalização da Baixa porque os resultados foram nulos.
Não
é uma grande festa de passagem de ano que torna Coimbra mais
cosmopolita, mais culta, mais solidária, mais bonita e mais rica,
como quem aqui vive e trabalha deseja. Pode haver, no dia seguinte,
simpáticas parangonas nos jornais mas que, obviamente, não
compensam o desconsolo dos problemas e das carências sentidas em
tantos outros dias do ano.
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