quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

PERPLEXIDADES NATALÍCIAS


Há não muito tempo o então ministro das finanças da Holanda e presidente do Eurogrupo, Jeron Dijsselbloem, suscitou um enorme clamor por nos ter criticado pela forma leviana como gastávamos dinheiro e a seguir íamos pedir ajuda à Europa.

A forma como fez a critica foi particularmente infeliz e por isso o repúdio foi geral mas, na verdade, há coisas que são difíceis de entender tanto mais que não se compaginam com a verdadeira situação económico-financeira do país e que merecem a reflexão de todos nós cidadãos-contribuintes.

Não somos um país rico e são notórias as reclamações diárias pelas mais variadas carências em equipamentos e serviços públicos essenciais. Mesmo na nossa cidade são evidentes problemas e dificuldades que gostaríamos de ver resolvidas para que pudéssemos ter aqui melhor qualidade de vida e garantíssemos a fixação de empresas e de jovens quadros.

É evidente que há um conjunto de políticas públicas municipais que se anseiam, que exigem uma estratégia de médio e longo prazo e que envolvem a mobilização de significativos meios financeiros, não só para investimento municipal mas também para co-financiamento de projetos com fundos nacionais e/ou comunitários.

Mas é então que surgem algumas perplexidades. Em vez de se intervir na resolução de problemas estruturais entra-se numa estranha espiral despesista de que é exemplo a realização de um concerto, que não terá custado menos de quinze mil euros, num domingo à tarde, para assinalar a inauguração das iluminações de Natal e com o argumento de apoio ao comércio da Baixa. Mas no domingo à tarde poucos estabelecimentos estavam abertos e as iluminações cingem-se apenas a algumas ruas, as mais visíveis e habitualmente mais frequentadas.

Por outro lado se há a intenção, com a colocação de iluminações de Natal de tornar a cidade mais atrativa, o que ninguém contesta, o que não se percebe é porque não há um esforço para tornar a cidade mais atrativa permanentemente, alindado, as suas ruas, os seus espaços públicos e as suas entradas.

Depois também é difícil entender porque é que se fazem tantos concertos ao mesmo tempo na passagem do ano – alguns parece que são tabelados a noventa mil euros cada.

Claro que por estes dias é tudo muito bonito mas amanhã, quando houver dificuldades e não houver disponibilidades financeiras para coisas essenciais, os cidadãos ir-se-ão interrogar como foi possível isto acontecer.

Ninguém defende que nos limitemos a cantarolar o “Natal dos simples” mas importa um olhar sereno para estas situações porque estão em causa dinheiros públicos e é legitimo que não só nós – contribuintes, mas também os cidadãos e os políticos de outros países se interroguem sobre a razoabilidade do seu apoio financeiro, a bem da dita coesão, quando nós andamos a gastar fortunas em festas.


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