Tenho
um divida de gratidão para com Coimbra que nunca conseguirei
pagar.
Na
conta corrente do meu viver há um imenso débito que tenho para com
ela, que
vou procurando amortizar defendendo-a e tentando que
lhe deem o carinho, a atenção e o cuidado de que entendo ser
merecedora.
Escrevo,
por isso e
também por lealdade,
frequentemente sobre Coimbra,
sabendo
que corro o risco de múltiplos entendimentos, nomeadamente os de que
as minhas palavras criticas têm
um destinatário preciso.
Não é verdade, o que escrevo é a favor de Coimbra!
Para
mais, Coimbra tem a particularidade de ser uma cidade onde coexistem
diversos poderes, muitas “igrejas” e “capelas” e por isso
admito que os meus escritos sejam lidos pelos crentes desses
“templos”
de
forma variada.
A
questão essencial é que
a
minha cidade não tem conseguido ultrapassar certos estrangulamentos
e confusões e tem, por isso mesmo, ficado para trás num campeonato
exigente e complexo que não permite hesitações, tibiezas e,
sobretudo, inercias,
o
que não se pode deixar de lamentar.
Sabemos
que
o
demasiado novo (neofilia) desconcerta e que o demasiado velho
(neofobia) aborrece, mas há que saber aproveitar os contributos dos
defensores dessas teses, tendo
em conta que
o importante é que olhemos
para onde devemos e não para onde querem que olhemos.
É,
igualmente,
sabido que as
doenças que atingem muitas cidades têm
a ver com
mudanças subterrâneas, quase
impercetíveis, e
que outras
emergiram
de situações difíceis e se tornaram espaços vibrantes porque
houve a capacidade de escutar e ouvir, e de perceber novas
realidades.
Uma
outra divida de gratidão que tenho é para com o 25 de Abril. Não
consigo imaginar o que seria a minha vida sem esse dia
extraordinário. Se
relativamente a Coimbra tenho de enaltecer os méritos do espaço
onde vivo, relativamente ao 25 de Abril tenho de agradecer a
liberdade e os valores que me permitiram ter futuro como cidadão.
Por isso também aqui a minha gratidão e a minha lealdade.
Acontece
que nas recentes comemorações do 25 de Abril, em Coimbra, um dos
momentos mais destacados foi o da inauguração de um parque de
estacionamento na Praça das Cortes, junto a uma entrada da cidade.
Confesso a minha
dificuldade em conciliar estas duas coisas. Para mim a cidade
necessita de intervenções de
requalificação
do espaço público que tenham em conta as pessoas e um olhar para o
futuro.
Colocar
o carro como objeto de preocupação principal e elevá-lo a ícone,
ainda que momentâneo, de uma revolução libertadora não me parece
que tenha sido um contributo positivo para este dia, para mais uma
Praça que tem
o nome de
um relevante
acontecimento
histórico.
Contrariamente
ao que muitos dos meus concidadãos defendem, não são os carros e a
profusão de estacionamento que farão de Coimbra uma cidade de
futuro, bem pelo contrário. Um dia os nossos filhos e netos
condenarão a nossa cegueira automóvel e o que temos destruído,
ou não realizado,
em seu nome.
Esta
não foi a celebração que Abril e Coimbra
mereciam.
Digo-o por gratidão e lealdade.
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