quinta-feira, 31 de maio de 2018

DEPOIS NÃO SE QUEIXEM


A partir de agora passámos a uma nova categoria: somos interioridade académica. Face à concentração de alunos inscritos no ensino superior em Lisboa e Porto o ministério decidiu reduzir o número de vagas nestas cidades, procurando assim “obrigar” alunos a irem para o interior.  

Não parece que, nos tempos que correm e nesta área, imposições desta natureza produzam bons resultados. O que seria relevante era uma visão do país, e consequentes medidas políticas globais, nomeadamente a nível de investimento público, que combatessem a bipolarização que se tem vindo consistentemente a concretizar, fazendo de Lisboa e Porto um país de primeira, no restante país de segunda em que Coimbra e o centro estão transformados.

A decisão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de tomar uma medida administrativa de planeamento territorial é, também, sintomática de que hoje a procura de formação superior e a realização de investigação não tem a ver apenas com a qualidade do ensino e dos projetos de investigação mas muito a ver com o ambiente urbano em que o estabelecimentos se inserem.

Já lá vai o tempo em que Coimbra era o paradigma da cidade universitária. Esse tempo acabou e se ainda há alguns fatores de atratividade eles têm vindo a desaparecer de forma preocupante.

A universidade ainda se vai aguentando nos rankings internacionais no que toca ao seu nível de ensino, facto que hoje como se percebe não é, só por si, determinante. Por seu lado a cidade tem tido uma imensa dificuldade em conseguir encontrar um caminho atrativo e entusiasmante para estudantes, investigadores e professores.

É que uma cidade de média dimensão, tratada como periférica e agora até integrada no conceito de interioridade, tem de realizar um esforço complementar e ter uma dinâmica especial para conseguir vencer os estrangulamentos de que é alvo, o que não tem vindo a acontecer.

A complicar tudo há um óbvio divórcio entre a cidade e a universidade, sendo evidente que não só não se tomam decisões concertadas e articuladas, como há uma degradação global de áreas urbanas e universitárias que é preocupante. Os polos II e III da universidade são disso um exemplo gritante.

Depois há um desaproveitamento lamentável de divulgação, com prejuízo mútuo, de iniciativas de dimensão relevante e com projeção internacional, como foi, recentemente, a realização do World Health Summit (VHS) e agora são os EUSA 2018 – Jogos Europeus Universitários 2018, que deveriam estar a ser profusamente divulgados por toda a cidade e nos sites institucionais.

Por tudo isto só apetece dizer: continuem assim e depois não se queixem.

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