1. Confesso a minha admiração pela coragem dos comentadores e
articulistas que, nesta altura, fazem previsões para o ano que começa e
dizem-nos com segurança o que vai acontecer no mundo e no país. É sabido que
astrólogos, “professores bambos” e ministros das finanças acertam sempre nas
previsões, mas quem escreve com assomos de credibilidade e procura fazer
seriamente opinião não me parece que tenha grande margem para previsões
acertadas.
À
imprevisibilidade na “nova paisagem social” (expressão de Manuel Castells) não
nos dá horizontes seguros nem perspetivas sólidas de adivinhação, para mais
depois do fuzilamento político da palavra irrevogável. Estamos assim perante um
ano a que chegamos em estado de necessidade e tudo o que sabemos é que vamos
ser politicamente conduzidos pelo método de navegação de cabotagem, sem
ousadias, nem vislumbres de vastos horizontes.
Mas
isto sou eu a falar, sem ter tido a coragem de comprar um dos vários kits de
adivinhação que proliferam e que me daria, decerto, a possibilidade de escrever
um artigo brilhante e prestigiar-me perante aqueles que têm a paciência de me
ler. Perdoem-me a avareza, mas não vou comprar o kit, nem a bola de cristal,
fico-me pelos votos de um Bom Ano Novo para todos, e que cada um decida o que é
para si um bom ano, tendo presente que, de acordo com o ex-ministro das
Finanças Dr. Victor Gaspar, 2014 é o ano imediatamente consecutivo a 2013.
2. Para Coimbra também não sou capaz de adivinhar nada de
especial, apenas desejar. Desejar que este seja o primeiro ano de um ciclo de
renovação, reafirmação e desenvolvimento da Cidade e do Município através da
Cultura. Vou desejar um grande e memorável “Festival Zeca Afonso”. Que não seja
preciso ir à Galiza celebrar Zeca Afonso. E que se recordem Adriano, Pinho
Brojo, António Portugal e todos aqueles que pela música se foram, em Coimbra,
da lei da morte libertando. Vou desejar que a música, em todas as suas
expressões, invada a cidade. Que se toque Carlos Seixas, que a Orquestra
Clássica do Centro seja assumida como um bem coletivo, que o Festival das Artes
mereça o reconhecimento e apoio da Cidade, que o Jazz invada a Baixa (a faça a
nossa New Orleans) e a transforme num
espaço revigorado pela arte. Que os Encontros de Fotografia renasçam com vigor
e que o Teatro assuma uma dimensão nacional. Que a pintura invada espaços
impensáveis e as Bandas Filarmónicas e Grupos Etnográficos e Folclóricos sejam
dignificados e acarinhados. E vou desejar que haja coordenação e articulação
das iniciativas de expressão cultural e que se suscite o aparecimento de novos
criadores.
Finalmente
vou desejar, como expressão cultural coletiva, que os espaço públicos sejam
mais dignificados. Que não haja lixo a inundar as ruas, carros estacionados em
praças e ruas que vão dar a locais classificados como Património Mundial da
Humanidade e que nasça um sentimento de responsabilidade coletiva: sermos todos,
a cada momento, responsáveis pela nossa Cidade.
Abaixo
a crise. Viva a Cultura! Bom Ano de 2014 Coimbra!
(Artigo
publicado na edição de 2 de janeiro de 2014, no Diário de Coimbra)
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