quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

SEM PREVISÕES. VIVA A CULTURA.



1. Confesso a minha admiração pela coragem dos comentadores e articulistas que, nesta altura, fazem previsões para o ano que começa e dizem-nos com segurança o que vai acontecer no mundo e no país. É sabido que astrólogos, “professores bambos” e ministros das finanças acertam sempre nas previsões, mas quem escreve com assomos de credibilidade e procura fazer seriamente opinião não me parece que tenha grande margem para previsões acertadas.

À imprevisibilidade na “nova paisagem social” (expressão de Manuel Castells) não nos dá horizontes seguros nem perspetivas sólidas de adivinhação, para mais depois do fuzilamento político da palavra irrevogável. Estamos assim perante um ano a que chegamos em estado de necessidade e tudo o que sabemos é que vamos ser politicamente conduzidos pelo método de navegação de cabotagem, sem ousadias, nem vislumbres de vastos horizontes. 

Mas isto sou eu a falar, sem ter tido a coragem de comprar um dos vários kits de adivinhação que proliferam e que me daria, decerto, a possibilidade de escrever um artigo brilhante e prestigiar-me perante aqueles que têm a paciência de me ler. Perdoem-me a avareza, mas não vou comprar o kit, nem a bola de cristal, fico-me pelos votos de um Bom Ano Novo para todos, e que cada um decida o que é para si um bom ano, tendo presente que, de acordo com o ex-ministro das Finanças Dr. Victor Gaspar, 2014 é o ano imediatamente consecutivo a 2013.
2. Para Coimbra também não sou capaz de adivinhar nada de especial, apenas desejar. Desejar que este seja o primeiro ano de um ciclo de renovação, reafirmação e desenvolvimento da Cidade e do Município através da Cultura. Vou desejar um grande e memorável “Festival Zeca Afonso”. Que não seja preciso ir à Galiza celebrar Zeca Afonso. E que se recordem Adriano, Pinho Brojo, António Portugal e todos aqueles que pela música se foram, em Coimbra, da lei da morte libertando. Vou desejar que a música, em todas as suas expressões, invada a cidade. Que se toque Carlos Seixas, que a Orquestra Clássica do Centro seja assumida como um bem coletivo, que o Festival das Artes mereça o reconhecimento e apoio da Cidade, que o Jazz invada a Baixa (a faça a nossa New Orleans) e a transforme num espaço revigorado pela arte. Que os Encontros de Fotografia renasçam com vigor e que o Teatro assuma uma dimensão nacional. Que a pintura invada espaços impensáveis e as Bandas Filarmónicas e Grupos Etnográficos e Folclóricos sejam dignificados e acarinhados. E vou desejar que haja coordenação e articulação das iniciativas de expressão cultural e que se suscite o aparecimento de novos criadores.

Finalmente vou desejar, como expressão cultural coletiva, que os espaço públicos sejam mais dignificados. Que não haja lixo a inundar as ruas, carros estacionados em praças e ruas que vão dar a locais classificados como Património Mundial da Humanidade e que nasça um sentimento de responsabilidade coletiva: sermos todos, a cada momento, responsáveis pela nossa Cidade. 

Abaixo a crise. Viva a Cultura! Bom Ano de 2014 Coimbra!

(Artigo publicado na edição de 2 de janeiro de 2014, no Diário de Coimbra)

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