1. Tomo a liberdade de o incomodar com um pedido de ajuda. Escrevo-lhe
porque acredito que os amigos russos que zelosamente o guardam, lhe facultarão
correspondência pessoal mesmo que lhe seja dirigida desta forma. Aliás, deve
haver para aí uma dezena de serviços de informação que me começaram a rastrear
- com os múltiplos satélites que têm a função de espiar as nossas pobres vidas
-, desde o primeiro instante em que escrevi o seu nome no processador de texto,
o que devo confessar me dá um certo gozo. Com efeito é um privilégio para um
terrorista impossível, residente numa jovem freguesia de Coimbra, merecer a
mesma atenção que o Papa Francisco, a chanceler Merkel, o presidente Obama e
toda a rapaziada que por esse mundo fora se entretém a usar o poder, a contar
dinheiro, a vender armas, ou a congeminar o envio de mártires para o paraíso.
Venho, assim, com a presunçosa convicção de que lerá esta escrita, pedir-lhe
que nos faculte algum do “material” coligido pela sua antiga entidade patronal,
a National Security Agency (NSA), e de que será possuidor como “seguro de
vida”. É coisa simples. Mesmo irrelevante para si. Faça-nos chegar algumas das
transcrições das conversas havidas entre políticos e empresários do meu país,
nos últimos anos. Claro que não se pede tudo, apenas acordos de partilha de
poder, negócios do Estado com a banca, estratégia de alienação de ativos
públicos, coisas destas. Apenas o que seja essencial para percebermos como negociaram
a crise que nos espetaram e como acordaram, entre si, a partilha de despojos.
Acredite
que lhe ficávamos muito gratos não só porque ajudaria a salvar muitas almas que
vivem angustiadas com vontade de se denunciarem e que não o podem fazer mas,
sobretudo, porque precisamos, urgentemente, de desmascarar um conjunto de
“artistas” instalados em nichos de poder e de influência, para conseguirmos
caminhar no sentido da moralização da nossa vida político-partidária tendo em
vista a subsistência do regime democrático, tanto mais que já dissemos adeus a
muito do essencial do estado social que, vai fazer 40 anos, começámos a
construir.
2. Já agora, faculte-nos também qualquer coisinha sobre a vida
partidária de Coimbra. Também merecemos algum divertimento de âmbito local. Pelo
que se ouve as disputas partidárias internas devem ser um manancial de
informação sobre a instrumentalização, manipulação, guerrilha smartphónica,
natalidade exponencial de fichas de militantes, etc. Não é justo que sendo esta
apelidada de Cidade do Conhecimento vivamos na ignorância e tenhamos de nos
contentar com o prato dos ossos para rapar - petisco bom mas insuficiente para
compreendermos a riqueza da culinária local.
Por
fim, meu caro Edward, não se preocupe com o segredo de justiça nem com essas
coisas das escutas telefónicas até porque sabe quem as faz e quem divulga os
nacos que lhe interessa, dado que é perito na matéria e conhece-os a todos, não
é verdade!?
PS:
Mesmo que saiba, apesar de não ser do seu tempo de analista da NSA, pede-se-lhe
encarecidamente que não revele onde está o “Guião para a Reforma do Estado”, é
que esse é mesmo segredo de estado.
(Artigo
publicado na edição de 16 de Janeiro de 2014, do Diário de Coimbra)
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