Se
não vivesse em Coimbra estou certo de que gostava de lhe fazer uma
visita.
É
sabido que os visitantes têm sempre um olhar diferente dos
habitantes e por isso eu veria uma outra cidade. Seria uma visão
mais superficial e idílica mas também mais atenta a certos
pormenores que se esbatem do olhar pela habituação.
Por
isso se tentar ser turista na minha terra vou ter de fazer um enorme
esforço e quase de certeza que não conseguirei um olhar puro sem as
cataratas do quotidiano. Lembro-me, a propósito da dificuldade em
olharmos e vermos aquilo que está perto de nós, traduzido
na
surpreendente pergunta que o professor Nogueira Gonçalves fazia
nas suas aulas de História da Arte: “Sabem de que cor são os
olhos dos vossos pais e/ou irmãos?”, e que deixavam a maioria sem
resposta.
Pois
é, se eu viesse visitar uma Coimbra desconhecida e tivesse um
bocadinho de mundo, bastava um bocadinho de Europa, era natural que
me intrigasse, logo à chegada, por ver uma cidade tão cantada pela
sua beleza, riqueza monumental e histórica, e uma tão vasta gama de
serviços, e não encontrasse aquilo que normalmente procuramos
ter
na nossa casa: uma entrada cuidada e bonita.
A
primeira impressão de quem chega é de uma cidade pouco alindada e
também de uma cidade com uma exígua sinalética, seja relativa aos
seus monumentos, espaços históricos, localização de serviços,
hotéis, parques de estacionamento, etc.
É
verdade que a sinalização vertical nas cidades é uma praga, mas
também é verdade que nem todos têm GPS e por isso há quem
desespere pelas voltas e voltinhas que tem de dar para chegar ao
local pretendido e a partir daí deixe de exaltar a beleza da cidade
e comece a praguejar com as
dificuldades
do encontro.
Depois,
também acabaria por lamentar o mau estado de certos espaços
públicos sobretudo no que toca à limpeza e ao arranjo. Ficaria
siderado com a transformação da bela Praça do Comércio num
anárquico parque de estacionamento e o
seu desaproveitamento como motor de regeneração e renovação de
uma
angustiada
Baixinha.
E
as flores!? Que falta fazem as flores em canteiros e rotundas,
amenizando o alcatrão e o casario numa cidade com uma cor e uma luz
magnificas. Cidade de rosas onde há tão poucas e tanto se sente a
falta do seu perfume.
Talvez
na despedida desta breve visita
e também sabendo como tem sido tratada por múltiplos poderes,
acabasse
por concluir que em Coimbra faz falta um hipopótamo no Mondego. É
que o hipopótamo, animal que
os antigos egípcios tanto respeitavam, é conhecido pela sua
convivência pacifica em grupo mas
de uma enorme agressividade quando alguém ameaça
um dos seus.
Ora,
digam lá se não dava jeito um hipopótamo por aqui
até
para fazer companhia ao urso do Parque Verde que é tão apreciado
mas que sofre imenso com permanentes problemas dermatológicos.
(Artigo
publicado na edição de 17 de novembro, do Diário de Coimbra)
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