terça-feira, 21 de novembro de 2017

UM HIPOPÓTAMO NO MONDEGO

Se não vivesse em Coimbra estou certo de que gostava de lhe fazer uma visita.

É sabido que os visitantes têm sempre um olhar diferente dos habitantes e por isso eu veria uma outra cidade. Seria uma visão mais superficial e idílica mas também mais atenta a certos pormenores que se esbatem do olhar pela habituação.

Por isso se tentar ser turista na minha terra vou ter de fazer um enorme esforço e quase de certeza que não conseguirei um olhar puro sem as cataratas do quotidiano. Lembro-me, a propósito da dificuldade em olharmos e vermos aquilo que está perto de nós, traduzido na surpreendente pergunta que o professor Nogueira Gonçalves fazia nas suas aulas de História da Arte: “Sabem de que cor são os olhos dos vossos pais e/ou irmãos?”, e que deixavam a maioria sem resposta.

Pois é, se eu viesse visitar uma Coimbra desconhecida e tivesse um bocadinho de mundo, bastava um bocadinho de Europa, era natural que me intrigasse, logo à chegada, por ver uma cidade tão cantada pela sua beleza, riqueza monumental e histórica, e uma tão vasta gama de serviços, e não encontrasse aquilo que normalmente procuramos ter na nossa casa: uma entrada cuidada e bonita.

A primeira impressão de quem chega é de uma cidade pouco alindada e também de uma cidade com uma exígua sinalética, seja relativa aos seus monumentos, espaços históricos, localização de serviços, hotéis, parques de estacionamento, etc.

É verdade que a sinalização vertical nas cidades é uma praga, mas também é verdade que nem todos têm GPS e por isso há quem desespere pelas voltas e voltinhas que tem de dar para chegar ao local pretendido e a partir daí deixe de exaltar a beleza da cidade e comece a praguejar com as dificuldades do encontro.

Depois, também acabaria por lamentar o mau estado de certos espaços públicos sobretudo no que toca à limpeza e ao arranjo. Ficaria siderado com a transformação da bela Praça do Comércio num anárquico parque de estacionamento e o seu desaproveitamento como motor de regeneração e renovação de uma angustiada Baixinha.

E as flores!? Que falta fazem as flores em canteiros e rotundas, amenizando o alcatrão e o casario numa cidade com uma cor e uma luz magnificas. Cidade de rosas onde há tão poucas e tanto se sente a falta do seu perfume.

Talvez na despedida desta breve visita e também sabendo como tem sido tratada por múltiplos poderes, acabasse por concluir que em Coimbra faz falta um hipopótamo no Mondego. É que o hipopótamo, animal que os antigos egípcios tanto respeitavam, é conhecido pela sua convivência pacifica em grupo mas de uma enorme agressividade quando alguém ameaça um dos seus.

Ora, digam lá se não dava jeito um hipopótamo por aqui até para fazer companhia ao urso do Parque Verde que é tão apreciado mas que sofre imenso com permanentes problemas dermatológicos.


(Artigo publicado na edição de 17 de novembro, do Diário de Coimbra)

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