As eleições autárquicas são a mãe de todas as ambições
políticas. Por um lado, o número de lugares em disputa leva à necessidade de
milhares de candidatos e, por outro, a proximidade e os meios necessários permitem
todo o tipo de candidatura e o aparecimento dos candidatos mais improváveis.
As candidaturas às Câmaras são as mais relevantes e de maior
impacto, por isso as que merecem uma atenção mais particular e especial e as
que melhor representam o nosso universo ambicional. Neste âmbito são, pelo
menos, conhecidos os candidatos naturais; os eternos; os disponíveis; os
acidentais; e os independentes.
Os partidos optam geralmente pelos naturais, por vezes
recorrem aos acidentais, também não deixam de considerar alguns disponíveis, mas
debatem-se com o problema dos eternos e confrontam-se com um reforçado
contingente de independentes, onde se contam cada vez mais os eternos, os que
sonham morrer na cadeira.
Contudo, os verdadeiros independentes são cada vez em maior número,
apregoando-se como produtos biológicos livres de pragas partidárias e isentos
de pesticidas ideológicos, o que atrai os eleitores que estão cansados das
tricas, dos golpes, das infidelidades e das incapacidades partidárias.
Claro que em todas estas categorias há bons candidatos,
homens e mulheres com verdadeiro sentido de serviço público e com ideias
concretas de melhoria de vida dos seus concidadãos, no entanto é preciso ter em
atenção que só se assume uma candidatura havendo ambição pessoal e coletiva.
Nalguns casos verifica-se que certas candidaturas são como os icebergs porque a
parte menos visível é ambição de poder.
É, neste contexto, que vamos assistindo a factos e a
reviravoltas surpreendentes ditadas por estratégias devidamente congeminadas assim
como a episódios que roçam o caricato e demonstram a verdadeira natureza da
coisa.
Por exemplo, lemos há dias, no Público, um artigo de um ilustre
apoiante do candidato independente, à Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, em
que é feita uma avaliação profundamente negativa dos governos autárquicos neste
município, liderados pelos partidos, nomeadamente pelo PSD e pelo PS,
concluindo com a necessidade de uma nova solução para construir o futuro.
Pois bem, passados alguns dias assistimos ao agradecimento e
ao rasgado elogio da ação do ex-presidente da Câmara do PSD, Carlos Encarnação,
feito pelo candidato independente José Manuel Silva, porque aquele decidiu dar
pública voz e fotografia de apoio à sua candidatura.
Não vou contrapor ao elogio a minha visão profundamente
nefasta para Coimbra do que foram esses mandatos, mas não deixa de ser
engraçado, perdoe-se-me a expressão, o elogio da prática política de alguém que,
sem aviso prévio toma uma posição acintosa de afronta ao partido a quem deve
ter sido: deputado, governante e presidente de Câmara.
Mais, trata-se de alguém que foi um caso único na governação
da Câmara de Coimbra porque teve como seu vice-presidente alguém que acumulava
com as funções de presidente de uma associação comercial e industrial, para
além de ter nomeado e mantido por três anos como diretor do urbanismo o
presidente de um clube de futebol.
Pois bem, como se vê por este breve exemplo, o elogio do
candidato, determinado pela perspetiva de uns votitos não cola com as críticas às
práticas partidárias nem com a assunção de um novo paradigma de governance apregoado pelos seus
apoiantes.
Mas este é apenas um episódio de uma saga que se vai
desenrolar pelos próximos tempos, porque as autárquicas, como se verá, são
mesmo a mãe de todas ambições.
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