segunda-feira, 15 de maio de 2017

AUTÁRQUICAS: A MÃE DE TODAS AS AMBIÇÕES



As eleições autárquicas são a mãe de todas as ambições políticas. Por um lado, o número de lugares em disputa leva à necessidade de milhares de candidatos e, por outro, a proximidade e os meios necessários permitem todo o tipo de candidatura e o aparecimento dos candidatos mais improváveis. 
 
As candidaturas às Câmaras são as mais relevantes e de maior impacto, por isso as que merecem uma atenção mais particular e especial e as que melhor representam o nosso universo ambicional. Neste âmbito são, pelo menos, conhecidos os candidatos naturais; os eternos; os disponíveis; os acidentais; e os independentes.

Os partidos optam geralmente pelos naturais, por vezes recorrem aos acidentais, também não deixam de considerar alguns disponíveis, mas debatem-se com o problema dos eternos e confrontam-se com um reforçado contingente de independentes, onde se contam cada vez mais os eternos, os que sonham morrer na cadeira.

Contudo, os verdadeiros independentes são cada vez em maior número, apregoando-se como produtos biológicos livres de pragas partidárias e isentos de pesticidas ideológicos, o que atrai os eleitores que estão cansados das tricas, dos golpes, das infidelidades e das incapacidades partidárias.

Claro que em todas estas categorias há bons candidatos, homens e mulheres com verdadeiro sentido de serviço público e com ideias concretas de melhoria de vida dos seus concidadãos, no entanto é preciso ter em atenção que só se assume uma candidatura havendo ambição pessoal e coletiva. Nalguns casos verifica-se que certas candidaturas são como os icebergs porque a parte menos visível é ambição de poder.

É, neste contexto, que vamos assistindo a factos e a reviravoltas surpreendentes ditadas por estratégias devidamente congeminadas assim como a episódios que roçam o caricato e demonstram a verdadeira natureza da coisa. 

Por exemplo, lemos há dias, no Público, um artigo de um ilustre apoiante do candidato independente, à Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, em que é feita uma avaliação profundamente negativa dos governos autárquicos neste município, liderados pelos partidos, nomeadamente pelo PSD e pelo PS, concluindo com a necessidade de uma nova solução para construir o futuro.

Pois bem, passados alguns dias assistimos ao agradecimento e ao rasgado elogio da ação do ex-presidente da Câmara do PSD, Carlos Encarnação, feito pelo candidato independente José Manuel Silva, porque aquele decidiu dar pública voz e fotografia de apoio à sua candidatura. 

Não vou contrapor ao elogio a minha visão profundamente nefasta para Coimbra do que foram esses mandatos, mas não deixa de ser engraçado, perdoe-se-me a expressão, o elogio da prática política de alguém que, sem aviso prévio toma uma posição acintosa de afronta ao partido a quem deve ter sido: deputado, governante e presidente de Câmara. 

Mais, trata-se de alguém que foi um caso único na governação da Câmara de Coimbra porque teve como seu vice-presidente alguém que acumulava com as funções de presidente de uma associação comercial e industrial, para além de ter nomeado e mantido por três anos como diretor do urbanismo o presidente de um clube de futebol.

Pois bem, como se vê por este breve exemplo, o elogio do candidato, determinado pela perspetiva de uns votitos não cola com as críticas às práticas partidárias nem com a assunção de um novo paradigma de governance apregoado pelos seus apoiantes.

Mas este é apenas um episódio de uma saga que se vai desenrolar pelos próximos tempos, porque as autárquicas, como se verá, são mesmo a mãe de todas ambições.




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