domingo, 1 de janeiro de 2017

PRUDÊNCIA



É inevitável. 2016 vai ser esmiuçado e 2017 vai merecer a atenção de astrólogos, cartomantes, professores esotéricos e sábios de ciências ocultas, que nos vão dizer como vai ser e que mistérios encerra. Aliás, agora, até temos entre nós um passólogo (dirigente partidário que faz previsões tipo oráculo utilizando passagens bíblicas), que já previu a vinda, logo no início do ano, dos Reis Magos. 

Portanto não esperem avaliações do ano que finda nem previsões aterradoras para o novo ano como fazem os grandes colunistas, que por isso são bem pagos, porque por mais dramático que eu pudesse ser nunca conseguiria competir com a realidade. 

Fico-me, armado com a minha ignorância, a pensar que se o ano de 2017 vai herdar a nível internacional tanta desgraça, bem como certezas e sintomas de que muitas outras vão acontecer, que temos de ser prudentes. 

2016 ensinou-nos muitas coisas e uma delas foi a de que houve imprudência nos referendos em Inglaterra e na Itália, que houve imprudência na avaliação das hipótese de Trump ser eleito presidente, houve imprudência na avaliação da capacidade destrutiva do estado islâmico, e houve imprudência na avaliação da política russa para o médio oriente e para a Europa.

Aliás, a Europa está encurralada entre a Rússia e os EUA, porque a temem, mas está sobretudo encurralada porque não foi suficientemente prudente na análise das suas forças e das suas fraquezas, não atuando atempadamente. Agora vive a angústia das eleições francesas, das eleições alemãs, das eventuais eleições italianas, da confusão instalada com o brexit, da incapacidade de perceber a Turquia, etc.

A nível nacional porque tivemos coisas boas não podemos deslumbrar-mo-nos e começar a desbaratar o adquirido e a exigir imprudentemente o impossível. É bom ver que o primeiro ministro, depois de ter ganho com mérito e otimismo em 2016, deu sinais de prudência (o orçamento de estado é disso exemplo), esperando-se, também, que os partidos que apoiam o governo, PS incluído, tenham a prudência necessária para não dar trunfos a uma direita que, obviamente, espreita todo e qualquer deslize.

E, na batalha autárquica que vai ocorrer, há que ser mais prudente do que nunca. É preciso ter em conta a utilização das redes sociais, estar atento aos “bots” e perceber que mais do que o tempo das obras este é o tempo da palavra e da imagem.

Prudência parece-me, portanto, ser a atitude e a palavra de ordem para 2017 e, por isso, sugiro um começo de ano com a leitura da: “A Arte da Prudência”, de Baltasar Gracián. 

(Artigo publicado na edição de 29 de dezembro, do Diário de Coimbra)

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