É
inevitável. 2016 vai ser esmiuçado e 2017 vai merecer a atenção de astrólogos,
cartomantes, professores esotéricos e sábios de ciências ocultas, que nos vão
dizer como vai ser e que mistérios encerra. Aliás, agora, até temos entre nós
um passólogo (dirigente partidário que faz previsões tipo oráculo utilizando
passagens bíblicas), que já previu a vinda, logo no início do ano, dos Reis
Magos.
Portanto
não esperem avaliações do ano que finda nem previsões aterradoras para o novo
ano como fazem os grandes colunistas, que por isso são bem pagos, porque por
mais dramático que eu pudesse ser nunca conseguiria competir com a realidade.
Fico-me,
armado com a minha ignorância, a pensar que se o ano de 2017 vai herdar a nível
internacional tanta desgraça, bem como certezas e sintomas de que muitas outras
vão acontecer, que temos de ser prudentes.
2016
ensinou-nos muitas coisas e uma delas foi a de que houve imprudência nos
referendos em Inglaterra e na Itália, que houve imprudência na avaliação das
hipótese de Trump ser eleito presidente, houve imprudência na avaliação da
capacidade destrutiva do estado islâmico, e houve imprudência na avaliação da
política russa para o médio oriente e para a Europa.
Aliás,
a Europa está encurralada entre a Rússia e os EUA, porque a temem, mas está
sobretudo encurralada porque não foi suficientemente prudente na análise das
suas forças e das suas fraquezas, não atuando atempadamente. Agora vive a
angústia das eleições francesas, das eleições alemãs, das eventuais eleições
italianas, da confusão instalada com o brexit, da incapacidade de perceber a
Turquia, etc.
A
nível nacional porque tivemos coisas boas não podemos deslumbrar-mo-nos e
começar a desbaratar o adquirido e a exigir imprudentemente o impossível. É bom
ver que o primeiro ministro, depois de ter ganho com mérito e otimismo em 2016,
deu sinais de prudência (o orçamento de estado é disso exemplo), esperando-se,
também, que os partidos que apoiam o governo, PS incluído, tenham a prudência
necessária para não dar trunfos a uma direita que, obviamente, espreita todo e
qualquer deslize.
E,
na batalha autárquica que vai ocorrer, há que ser mais prudente do que nunca. É
preciso ter em conta a utilização das redes sociais, estar atento aos “bots” e
perceber que mais do que o tempo das obras este é o tempo da palavra e da
imagem.
Prudência
parece-me, portanto, ser a atitude e a palavra de ordem para 2017 e, por isso,
sugiro um começo de ano com a leitura da: “A Arte da
Prudência”, de
Baltasar Gracián.
(Artigo
publicado na edição de 29 de dezembro, do Diário de Coimbra)
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