Obviamente,
OBRIGADO.
É
impossível não falar, neste momento, de Mário Soares. Primeiro porque sem ele
não seria quem sou (o homem e as suas circunstâncias), não teria tido os
encontros e os desencontros de uma vida profissional e politicamente ativa e
não estaria aqui a escrever. Depois porque o meu país, a minha cidade, a vida e
os sonhos de todos nós não seriam os mesmos.
Sinto,
portanto, a obrigação de expressar a minha mais profunda gratidão a um homem
extraordinário que marcou decisivamente o nosso tempo e o nosso modo de estar.
É
sabido que a gratidão, que nunca foi uma filha dileta da política, bem pelo
contrário, é hoje mais do que nunca desprezada por força de uma explicação
marcadamente utilitária e mercantilista para os comportamentos. Desconfiamos
que por detrás de qualquer postura politica e cívica empenhada está sempre a
ganância de um pagamento e por isso o reconhecimento não faz parte da nossa
agenda.
Haverá
quem discorde deste obrigado e que tenha uma visão negativa do homem e do
político que foi Mário Soares, e que o expresse livremente. Mas,
surpreendentemente, essa é uma forma de gratidão porque é a prova de que isso
só é possível, em grande medida, graças ao que foi a sua ação política e o
resultado dos seus bons combates. Será, talvez, o modo de expressão de gratidão
dos ingratos.
A
gratidão a Mário Soares também decorre da convicção de que ele se preocupou
constantemente connosco, por opção, sem que a isso fosse obrigado. Deu-nos
durante décadas parte substancial da sua vida, com prazer, com alegria e sem
medo, e isso é raro, mais raro ainda porque o resultado do essencial que nos
deu foi bom.
Muitas
vezes não o compreendemos. Até estamos certos de que muitas vezes errou.
Sabemos que não era um herói ou um super-homem, mas também sabemos que não
tinha pretensões a sê-lo e por isso ainda mais lhe devemos agradecer, para mais
depois de 40 anos de um sacralizado poder ditatorial.
Durante
a nossa vida fazemos permanentes julgamentos. Avaliamos os outros, fazemos juízos
de valor e, por atos e omissões, somos frequentemente injustos. No caso de
Mário Soares, que nos permitiu a liberdade do que somos e que foi um amigo de
Coimbra, é imprescindível inscrever, com brevidade e de forma honrosa, no nosso
espaço coletivo, a sua memória.
Que
a cidade do conhecimento saiba ser, também, cidade do reconhecimento.
(Artigo
publicado na edição de 12 de janeiro, do Diário de Coimbra)
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