quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

GRATIDÃO



Obviamente, OBRIGADO.

É impossível não falar, neste momento, de Mário Soares. Primeiro porque sem ele não seria quem sou (o homem e as suas circunstâncias), não teria tido os encontros e os desencontros de uma vida profissional e politicamente ativa e não estaria aqui a escrever. Depois porque o meu país, a minha cidade, a vida e os sonhos de todos nós não seriam os mesmos. 

Sinto, portanto, a obrigação de expressar a minha mais profunda gratidão a um homem extraordinário que marcou decisivamente o nosso tempo e o nosso modo de estar.

É sabido que a gratidão, que nunca foi uma filha dileta da política, bem pelo contrário, é hoje mais do que nunca desprezada por força de uma explicação marcadamente utilitária e mercantilista para os comportamentos. Desconfiamos que por detrás de qualquer postura politica e cívica empenhada está sempre a ganância de um pagamento e por isso o reconhecimento não faz parte da nossa agenda. 

Haverá quem discorde deste obrigado e que tenha uma visão negativa do homem e do político que foi Mário Soares, e que o expresse livremente. Mas, surpreendentemente, essa é uma forma de gratidão porque é a prova de que isso só é possível, em grande medida, graças ao que foi a sua ação política e o resultado dos seus bons combates. Será, talvez, o modo de expressão de gratidão dos ingratos.

A gratidão a Mário Soares também decorre da convicção de que ele se preocupou constantemente connosco, por opção, sem que a isso fosse obrigado. Deu-nos durante décadas parte substancial da sua vida, com prazer, com alegria e sem medo, e isso é raro, mais raro ainda porque o resultado do essencial que nos deu foi bom.

Muitas vezes não o compreendemos. Até estamos certos de que muitas vezes errou. Sabemos que não era um herói ou um super-homem, mas também sabemos que não tinha pretensões a sê-lo e por isso ainda mais lhe devemos agradecer, para mais depois de 40 anos de um sacralizado poder ditatorial.

Durante a nossa vida fazemos permanentes julgamentos. Avaliamos os outros, fazemos juízos de valor e, por atos e omissões, somos frequentemente injustos. No caso de Mário Soares, que nos permitiu a liberdade do que somos e que foi um amigo de Coimbra, é imprescindível inscrever, com brevidade e de forma honrosa, no nosso espaço coletivo, a sua memória. 

Que a cidade do conhecimento saiba ser, também, cidade do reconhecimento.

(Artigo publicado na edição de 12 de janeiro, do Diário de Coimbra)

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