Depois
de um interregno, em que os feriados eram considerados como um forte contributo
para a grave crise económica que nos tinha atingido, hoje 1.º de Dezembro é
feriado!
O
entendimento dos detentores do poder e do capital, ou melhor do capital e do
poder, de que vivemos numa pura sociedade de produção e de que o objetivo
último da nossa existência é trabalhar muito e barato, decidiu fazer dos
feriados um alibi para nos culpabilizar pelos seus desvarios e incompetência.
Retomar
este feriado, que nos permite o ripanço matinal e o sorver calmo do café, para
além do simbolismo próprio do dia, é também sinónimo da vitória de uma ideia
essencial: a de que há alternativas políticas e que não chegamos ao fim da
história portuguesa. Comemorando o Dia da Independência em termos de
nacionalidade estamos também, porque hoje é feriado, a celebrar novas políticas
e novos caminhos coletivos.
A
diabolização dos feriados, feita por muitos dos que mais feriados gozam, não
pode, também, deixar de ser entendida como o desprezo pela felicidade que o
ócio dá em contraponto com o negócio de uns tantos que entendem que a
generalidade dos cidadãos não passam de animal
laborans ao seu serviço.
O
facto de nos terem reduzido os feriados também significou, contrariamente ao
que nos tentaram fazer crer, um retrocesso civilizacional, porque implicou a
ideia da subordinação de uma vida feliz a uma desenfreada luta pela sobrevivência.
Não
sei, não tenho nada com isso, como é que os meus concidadãos vão passar o
feriado. Se vão aos shoppings às
compras, se vão passear ou correr, ou simplesmente gozar a leitura do Diário de
Coimbra e, numa amena cavaqueira com os amigos, desancar nas minhas opiniões.
Nada disso importa. O essencial é que possam gozar a liberdade e o prazer de um
dia descomprometido.
Ora
como tantos sabiamente ensinaram precisamos de descansar, refletir, contemplar.
Claro que não se pede que, como Paul Cézanne, consigamos ver a fragrância das
coisas através da contemplação e de uma atenção profunda, mas, pelo menos, que
se perceba que vivemos um tempo diferente que é também mais exigente.
É
sobretudo um tempo de maior empenhamento e de maior exigência cívica para que
não venhamos, daqui a algum tempo, a perder outra vez o feriado do 1.º de Dezembro.
(Artigo
publicado na edição de 1 de dezembro, do Diário de Coimbra)
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