quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

PORQUE HOJE É FERIADO



Depois de um interregno, em que os feriados eram considerados como um forte contributo para a grave crise económica que nos tinha atingido, hoje 1.º de Dezembro é feriado!

O entendimento dos detentores do poder e do capital, ou melhor do capital e do poder, de que vivemos numa pura sociedade de produção e de que o objetivo último da nossa existência é trabalhar muito e barato, decidiu fazer dos feriados um alibi para nos culpabilizar pelos seus desvarios e incompetência.

Retomar este feriado, que nos permite o ripanço matinal e o sorver calmo do café, para além do simbolismo próprio do dia, é também sinónimo da vitória de uma ideia essencial: a de que há alternativas políticas e que não chegamos ao fim da história portuguesa. Comemorando o Dia da Independência em termos de nacionalidade estamos também, porque hoje é feriado, a celebrar novas políticas e novos caminhos coletivos.

A diabolização dos feriados, feita por muitos dos que mais feriados gozam, não pode, também, deixar de ser entendida como o desprezo pela felicidade que o ócio dá em contraponto com o negócio de uns tantos que entendem que a generalidade dos cidadãos não passam de animal laborans ao seu serviço.

O facto de nos terem reduzido os feriados também significou, contrariamente ao que nos tentaram fazer crer, um retrocesso civilizacional, porque implicou a ideia da subordinação de uma vida feliz a uma desenfreada luta pela sobrevivência. 

Não sei, não tenho nada com isso, como é que os meus concidadãos vão passar o feriado. Se vão aos shoppings às compras, se vão passear ou correr, ou simplesmente gozar a leitura do Diário de Coimbra e, numa amena cavaqueira com os amigos, desancar nas minhas opiniões. Nada disso importa. O essencial é que possam gozar a liberdade e o prazer de um dia descomprometido. 

Ora como tantos sabiamente ensinaram precisamos de descansar, refletir, contemplar. Claro que não se pede que, como Paul Cézanne, consigamos ver a fragrância das coisas através da contemplação e de uma atenção profunda, mas, pelo menos, que se perceba que vivemos um tempo diferente que é também mais exigente.

É sobretudo um tempo de maior empenhamento e de maior exigência cívica para que não venhamos, daqui a algum tempo, a perder outra vez o feriado do 1.º de Dezembro.

(Artigo publicado na edição de 1 de dezembro, do Diário de Coimbra)

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