quinta-feira, 16 de julho de 2015

INCOMODIDADE DESNECESSÁRIA.



Sei, por experiência própria, a distância entre o muito de substantivo e relevante que se decide nas reuniões da Câmara de Coimbra e aquilo que vem a público. Aliás qualquer autarca, com um mínimo de experiência, aprende a conviver com esta realidade. Estranha-se, por isso, ao ler os relatos das reuniões da Câmara, a repetição de uma moléstia que tão nefasta foi em anteriores mandatos. 

Há repetidos episódios de crispação e acrimónia, entre membros do executivo ou com munícipes, que são um inesperado déjà vu e que geram óbvio desconforto nos cidadãos. Por quê voltar a tomar o mesmo veneno sabendo quanto isso debilita os protagonistas e faz realçar o acessório em detrimento do essencial?

Para mais, tendo presente a enorme taxa de abstenção nas eleições autárquicas, há necessidade de um redobrado esforço para reganhar os cidadãos no interesse e no empenhamento cívico, com o objetivo coletivo de engrandecimento da cidade. 

É evidente que nem sempre é fácil suportar incompreensões e pequenas provocações mas isso faz parte do jogo democrático e o grande mérito está em conseguir evitar que futilidades diminuam e “apaguem” as boas decisões e os bons projetos.

A transposição de um certo ponto de equilíbrio no combate político e o assomo de humores pessoais no exercício de funções de representação dão invariavelmente mau resultado e criam barreiras desnecessárias levando a um estado de confusão e de desânimo que a ninguém aproveita. 

Não há, portanto, necessidade de complicar um trabalho à partida difícil, antes pelo contrário, o que se espera é a capacidade de arredondar arestas e de encontrar saídas para os bloqueios e os obstáculos que vão sendo colocados no nosso caminho. 

Acrescente-se, ainda, que há um problema de sintonia e de integridade global que é imperioso garantir como condição de afirmação e respeito geral, entre aquilo que é a cidade e o que ela representa e o seu governo. É preciso não esquecer que face a tudo o que a fantástica Coimbra foi, é e pretende ser é exigido um elevado perfil ao seu principal centro de poder local democrático.

Não sendo este um assunto fácil de abordar é contudo essencial refletir sobre ele e talvez o período de férias – um tempo mais relaxado e distendido –, permita a serenidade de análise e o ajustamento de práticas, tendo presente aquilo que Benjamin Franklin ensinou: “Os homens são criaturas muito raras: metade censura o que pratica; a outra metade pratica o que censura; o resto sempre diz e faz o que deve.”
 
(Artigo publicado na edição de 16 de julho de 2015, do Diário de Coimbra)

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