quinta-feira, 9 de abril de 2015

COIMBRA DAS LAMPREIAS



Sabendo que Páscoa significa passagem, mas decerto confusas com as alterações aos feriados, umas dezenas de lampreias ter-se-ão apresentado no Açude-ponte, na passada Sexta-feira Santa, determinadas a subir o Mondego, usando para tal a famosa “escada de peixes” ali construída depois de anos de labuta e forte empenhamento político, particularmente de deputados que sempre acharam que o arroz de lampreia estava acima de qualquer divergência político-partidária.  

Infelizmente, apesar da sua capacidade de nadarem contra a corrente e da vontade férrea de fazerem o seu parto natural a montante de Coimbra, as pobres lampreias acabaram por soçobrar na sexta-feira. Não há notícia de exéquias nem de qualquer inquérito para apuramento de responsabilidades, mas que foi uma triste sexta-feira para dezenas de ciclóstomos, lá isso foi. 

O apuramento final do número de mortes será, decerto, feito perla Universidade Évora que, de acordo com notícia de 24 de fevereiro da revista Visão, faz a monitorização da escada de peixe de Coimbra e que deu conta de que em 2013 terão subido a escada 8.333 lampreias e em 2014 terão por ali passado cerca de 22.000 exemplares. Não peçam para comentar o desfasamento destes números, que se parecem com as várias versões dos números do desemprego e como tal impossíveis de entender.

Mas, já agora que as lampreias de Coimbra são monitorizadas pela Universidade de Évora talvez não fosse descabido pedir àquela mesma universidade que também monitorizasse o assoreamento do Mondego e o estado dos paredões na zona da cidade, particularmente o da margem direita. É que tendo-se gasto mais de um milhão de euros para que as lampreias sigam confortavelmente o seu instinto reprodutor talvez fosse possível gastar uns trocos para evitar que fiquemos com a escada na mão e parte da cidade tombada para o Mondego.

Contrariamente ao que por vezes se diz Coimbra mobiliza-se por grandes causas, a lampreia é um exemplo, agora o assoreamento do rio e a estabilidade das suas margens, particularmente as que banham a cidade, já para não falar do estado da marginal direita, isso são causas menores que um dia, talvez numa qualquer sexta-feira, nos farão chorar pela inércia, incúria e falta de empenhamento político.

Não pensem os leitores que não defendo as lampreias, bem pelo contrário, apesar de já ter sido mais amigo do tão famoso pitéu de que agora até se faz sushi, mas têm de convir que muitas vezes as nossas opções, nesta cidade do conhecimento, são no mínimo estranhas. 

Ah, já me esquecia a escada de peixe foi inaugurada em 2011 e o Açude-ponte em 1981 o que leva a perguntar como é que as lampreias passaram, nestes trinta anos, a Ponte-açude, sem a tal escada de mais de um milhão de euros? 

(Artigo publicado na edição de 9 de abril de 2015, do Diário de Coimbra)

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