quinta-feira, 23 de abril de 2015

CERTEZAS EM TEMPO DE DÚVIDAS



Será verdade e por quê?

É recorrente a afirmação de que Coimbra perdeu, nas últimas décadas, influência no contexto nacional. Sendo esta uma convicção que foi fazendo o seu caminho e que está adquirida, muito particularmente pelas suas próprias elites, não haverá que duvidar.

Na verdade Coimbra tem hoje uma menor visibilidade e uma menor representação nas estruturas políticas a nível nacional, bem como uma menor notoriedade nos media nacionais. Há como que um apagamento do papel que, ainda não há muito, representava para o país na produção de ideias, de cultura e de formação de elites políticas.

Para isto não será estranho o facto de ter deixado de ser a Cidade Universitária do país, para passar a ser mais uma das cidades com universidade. Talvez, com a instauração do regime democrático, nenhuma outra cidade tenha visto o seu estatuto tão abalado como Coimbra. O fim da quase exclusividade daquele que era o seu pilar fundamental de afirmação e à volta de que tudo girou durante séculos, foi posto em crise e, consequentemente, gerou uma angustiante sensação de perda, que até ao momento não foi totalmente ultrapassada.

Mais, com a emergência da democracia representativa e por força da debilidade demográfica do círculo eleitoral que encabeça, acabou por se situar no meio da tabela em número de deputados o que lhe reduziu significativamente a importância política e a capacidade de reivindicação.

E, porque não há duas sem três, viu, no mesmo momento, a ambição do poder e o poder do dinheiro concentraram-se na capital e, consequentemente, atrair muitos daqueles que poderiam ser mais-valias para o seu futuro.

Em conclusão, confrontada com novas realidades, mudanças profundas e aceleradas, que geram sempre mal-estar, e porque estava acomodada a um certo protecionismo e ao “chapéu” de algumas figuras tutelares, acabou por não encontrar a força nem o saber necessários para se recolocar num plano equivalente àquele de que até então gozava.

E agora?

Não sei se há um manual de auto-ajuda para cidades, mas há formas evidentes de diminuição da auto-estima coletiva, que têm, por aqui, sido cultivadas com esmero. Uma das mais recorrentes é da realização de debates, tertúlias, conferências, etc. sobre a cidade em que se produzem ideias utópicas ou realistas, pouco importa, mas que acabam por nunca ter consequências. Fazem-se Planos Estratégicos que ninguém conhece e que, contrariamente ao seu objetivo, acabam por não ter qualquer consequência prática. Fazem-se campanhas eleitorais, com programas, de que toda a gente se esqueceu no dia seguinte. 

Depois, e em complemento, não se conhece uma visão para o Município, apresentada por uma liderança mobilizadora e que possa ser assumida coletivamente. Mais ainda, a cidade tem um formato que leva a uma partilha de poderes que não permite identificar claramente um líder. Soma-se a existência de um conjunto de potenciais contribuintes para o enriquecimento cultural e cívico da cidade, que até vive nela e também dela, mas que a entendem pequena e irrelevante demais para o seu estatuto e ambições e como tal dispensam-se de lhe dar o seu contributo.

Tudo isto contribui para a dificuldade de aparecimento de uma política de esperança coletiva. Reina uma lógica de curto prazo e uma liturgia do efémero que não permite a emergência daquilo a que alguém chamou “política da posteridade”, para mais quando o que faz mover as pessoas são sobretudo as energias negativas, como a indignação e a vitimização.

Coimbra, tem pois, uma má relação com o futuro e vive com dificuldades o seu presente, sendo por isso, um desafio arrojado prescrever qualquer receita tendente a inverter a assumida situação de redução de influência. Aliás, tenho a certeza absoluta de que qualquer sugestão será sempre encarada com um sorriso condescendente ou uma risada sarcástica.

Contudo, para mim, tenho uma convicção: só será possível reverter a situação através de políticas, concretamente políticas públicas, que assentem em dois pilares: CULTURA e CIÊNCIA. Não tenho dúvidas de que é por aqui que passa qualquer estratégia de desenvolvimento do Município e de afirmação regional e nacional de Coimbra.

Mas, já agora, e porque são muitas vezes as pequenas coisas que suscitam os grandes sentimentos e transformam vidas e cidades, por que não distribuir no dia 4 de julho, Dia da Cidade, uma pequena bandeira da cidade, e em contraponto àquela desculpa paradigmática que Goethe nos legou, através de Torquato Tasso e que diz: “do que cada um é/ são os outros que têm a culpa”, com a seguinte frase inscrita: “Coimbra vai ser melhor por minha culpa.” 

(Artigo publicado na edição de aniversário do Campeão das Províncias)

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