Faz
25 anos que me iniciei na aventura da atividade autárquica. Não foi um risco
calculado, foi a disponibilidade para um serviço público na minha cidade. Agora
do que estava longe de imaginar era a marca de água com que se fica depois de
ser autarca. A partir daí é-se olhado de maneira diferente e também se passa a
olhar com outros olhos para as ruas, para as casas e até para as árvores. Nunca
mais há um café distraído, tudo nos salta à vista de uma nova forma impressiva
e com uma outra luz e textura. Não será bem um stress pós-autarca de que se
fica a sofrer mas é uma vida diferente que se fica a viver.
A
memória, então, fica povoada de tanta coisa que é difícil não tropeçar
permanentemente em “pedras” e/ou “estórias” de encanto vário. Até palavras por
lá ouvidas ou lidas e que não assim tão frequentes nos vêm visitar com
frequência. Uma das que tantas vezes me aparece é embelezamento. Está no título
de uma proposta de intervenção urbanística, do arquiteto Etienne de Grörer,
feita em meados do século passado, concretamente: “Ante-pojecto de urbanização,
de embelezamento e de extensão da cidade de Coimbra”. Ora aí está
embelezamento! Palavra que não está na moda, que não faz parte do atual jargão
técnico mas que encerra uma ideia que me parece preciosa e profundamente
adequada às necessidades da cidade.
Quem
ama Coimbra e em especial quem nela vive e/ou trabalha descreve, vezes sem
conta, o seu fantástico skyline e fala do seu ambiente único mas não deixa de
se sentir incomodado quando percorre os seus espaços públicos (as suas praças,
ruas e recantos). Numa análise mais fina e atenta sente-se o desconforto pela
ausência de soluções coerentes e integradas de embelezamento.
Sei
quão difícil é o governo da cidade, como é complexo o seu tecido social e como
são vastas as “capelanias” historicamente instaladas e, mais ainda, como é por
aqui tão praticado o pecado da omissão, por isso mesmo é que me parece ser este
o momento – dado o apelo à paz e amor do Natal e a esperança de um bom Ano Novo
que se deseja – para falar da necessidade de embelezamento de Coimbra.
Façamos
uma pequena peregrinação pelas entradas da cidade, pela Baixa, pela envolvente
dos Polos Universitários e dos estabelecimentos de saúde, pelos diversos “bairros”
e jardins e depois capacitemos de que isto assim não é vida. Há demasiada falta
de beleza, de ordenamento e de coerência urbana.
Deixo,
por isso, neste “postal” de Boas Festas, um apelo a um olhar e a um
empenhamento coletivo de corresponsabilização e de exigência no sentido do
embelezamento da nossa Coimbra, para que ela tenha um Novo Ano com renovada
esperança no futuro.
(Artigo
publicado na edição de 18/12/2014, do Diário de Coimbra)
Sem comentários:
Enviar um comentário