Amanhã
é dia da minha cidade. Um dia especial em que se comemora e em que é necessário
assumir a responsabilidade de pensar o seu futuro. Como é sabido temos um
encontro inevitável com o futuro, independentemente do que fizermos. Mas não
podemos aceitar a vergonha de não sermos capazes de refletir coletivamente, de
não termos ideias e, consequentemente, de influenciar esse futuro. Debatemo-nos
com tempos difíceis, com uma sociedade cada mais complexa e imprevisível. Um
tempo que limita em muito a nossa capacidade de pensar o futuro o que é, sem
dúvida, um dos nossos principais inimigos. Vamos, neste dia, dar-lhe uma
estocada e assumir um momento de reflexão individual e coletiva.
Não
é impunemente que se vive, trabalha ou sonha numa cidade como Coimbra, o que
acentua as responsabilidades que temos de nos batermos por um futuro singular,
que considere a dimensão local, regional e nacional, porque um dos nossos
outros inimigos acolhe-se numa visão limitada, paroquial, quando o futuro nos
pede uma escala totalmente diferente.
Sabemos
que o que faz mover as pessoas é muito mais o risco do que a oportunidade e
aqui reside mais um inimigo. Não podemos aceitar ser conduzidos pelo medo, nem
podemos ficar tolhidos pelo receio. Temos consciência de que campeia, por aqui,
uma certa forma de pessimismo cultural, que já confirmámos sobejamente tem sido
particularmente negativo, por isso este é mais do que nunca o tempo de reganhar
o orgulho perdido e avançar na busca e aproveitamento das oportunidades que
nunca foram tantas como hoje.
Nos
tempos que vivemos há uma quase ausência de projetos utópicos, o que castra o
entusiasmo e a vontade de participar. A utopia é-nos necessária e é sobretudo
necessário perceber que projetos utópicos não significa projetos megalómanos,
nem dinheiro a rodos. Temos, por isso, o inimigo da desutopia. Há uma utopia de
cidade que temos de assumir, assente nas suas capacidades humanas, culturais,
históricas, simbólicas, imagéticas, poéticas, lendárias, etc., etc., etc. Não
podemos permitir que um passado grandioso atrofie as nossas ambições e mate os
nossos sonhos.
A
Coimbra que temos hoje, perante os nossos olhos e em que exercitamos a vida, é
uma cidade politicamente muito diferente daquela que tínhamos há um ano, tendo
em atenção que, como alguns ensinam, não estamos a viver um tempo de
despolitização mas sim num tempo de dessacralização da política, o que
significa uma maior responsabilidade e coragem de todos: eleitos e eleitores. Este
4 de julho deve, por isso, fazer-nos entender que a cobardia da omissão é, também,
um inimigo que não podemos deixar de combater.
(Artigo
publicado na edição de 3 de julho de 2014, do Diário de Coimbra)
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