1. Num processo de pura autodefesa mental tenho caminhado no
sentido de me abster de debater ou de falar de resultados eleitorais logo após
as eleições, sejam elas quais forem. Para além das minhas naturais limitações
para compreender sofisticadíssimos raciocínios, quase sempre justificadores de
grandes vitórias, tenho presente a afirmação de Confúcio de que: “O Homem tem três formas de agir com
sabedoria. A primeira é a meditação, e é mais nobre. A segunda é a imitação, e
é a mais fácil. A terceira é a experiência, e é a mais dolorosa.” Não sendo
um meditativo, também não sou um imitador e por isso tenho acabado nas aventuras
políticas, em que me tenho metido, por ter experiências dolorosas. Ao longo de
muitos anos tem-me doído perder e, vejam lá, tem-me doído ganhar. Aliás,
tornou-se muitas vezes intrigante a incapacidade de responder na atividade
política àquela pergunta que os cientistas tantas vezes fazem: “Por que é que
coisas que podiam e deviam ter acontecido não acontecem?” Pois é, eu devia
estar a saborear uma grande vitória eleitoral e não é que me saiu uma
vitoriazinha convertida num desatino.
Também
nestas andanças me recordo com frequência do que aconteceu com o Dodó, uma ave
existente em Madagáscar e que como é sabido acabou extinta depois do encontro com
os descobridores do séc. XVI. Extinta porque era não só uma ave ingénua mas,
também porque não tinha qualquer noção de medo portando-se de forma tola o que
levou a deixar-se caçar, sem esboçar qualquer resistência ou fuga, pelos
marinheiros. Havia no Dodó uma estupidez confiante que nos deve fazer pensar e
retirar ensinamentos.
Portanto,
sem qualquer intuito de falar em política, neste pós-eleições, não posso deixar
de pensar que uma vitoriazinha, considerada ingenuamente e olhada sem noção do
verdadeiro perigo que encerra pode levar, como aconteceu aos confiantes Dodós,
à extinção de projetos políticos fundamentais ao nosso futuro.
2. Como não sou especialista em biologia evolutiva sou levado
a usar os neurónios com coisas mais comezinhas e a pensar nas anunciadas
primárias no PS, que me suscitam tanto de satisfação como de preocupação,
porque reformas deste género, sem dúvida interessantes e importantes
instrumentos modernizadores dos partidos, carecem de uma preparação cuidadosa,
devem ser equacionados num contexto de sereno evolucionismo político e nunca
deviam ser utilizadas como instrumentos de circunstancial combate político. É que
o problema, neste momento, não está aqui, acabou por se tornar num problema de survival of the fittest (sobrevivência
dos mais aptos) que traga a esperança e a convicção de um vitória de esquerda e
aí para mim, António Costa é a solução,
até porque não tem nada de Dodó.
Gostei; muito bem.
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