1. Nunca como hoje percebemos como a política é fraca face aos
poderes financeiros e da comunicação social. Os políticos acabam, por isso, a
fazer, no essencial, o jogo mediático e o jogo da finança, que tantas vezes se
entrelaçam. Quando, numa sociedade cada vez mais complexa, precisávamos de
clarividência e coragem, o que temos vindo a suportar é sobretudo o discurso da
irresponsabilidade que, quase sempre, é cínico ou trágico. E isto é
verdadeiramente assustador quando se pensa que aos políticos cabe conceber o
futuro. Aliás a grande conquista política dos últimos anos é sobretudo de
natureza semântica. Veja-se que, apesar do acordo ortográfico, ajustamento
mantem a grafia, mas por obra e graça dos partidos que nos governam passou a
ter um significado diferente. Agora significa: empobrecimento, retrocesso
social, desvalorização do trabalho, mão-de-obra barata. Isto é, uma formulação
de comunicação soft para dar cobertura a uma estratégia de obtenção do lucro
máximo por parte de empresas e entidades financeiras a que a crise garante
segurança nos dividendos e reforçadas alavancas de exploração futura.
Sintoma
da fragilidade política é, também, o facto de os temas políticos terem passado
a secundários relativamente às personalidades políticas, levando à ausência de
um debate de ideias por troca com um afrontamento de questões de carácter, o
que gera uma enorme confusão e a erosão fatal dos atores políticos. Sabemos que
o processo de modernização da sociedade leva a um discurso sobre a perda de
valores e a alguma desorientação, o que origina nos cidadãos aquilo que Marcel
Gauchet designou por “patologia da despertença” e que hoje é profundamente
notório no nosso país, mas para o qual é difícil encontrar antídoto perante a
confusão reinante a nível governamental. Que os deuses nos ajudem a substituir,
com a maior brevidade, parte da nossa superestrutura política: Assembleia e
Governo, sem o que as pragas do Egipto parecerão uma brincadeira face ao que
vamos sofrer nos próximos anos.
2. Claro
que a irresponsabilidade também começa
naquela postura do indivíduo puro, que não deve nada à sociedade mas dela exige
tudo. Nós, aqui por Coimbra, temos uma forma lírica “Coimbra tem mais encanto
na hora da despedida.”, que apela à saudade na partida, o que é sem dúvida
bonito. Mas precisávamos tanto de “cantar” um empenhamento constante de todos
na construção de uma Coimbra, que sendo cada vez mais cosmopolita precisa de
manter as suas particularidades. Aliás, os últimos tempos têm trazido algumas
boas notícias – que são mérito nosso e não se enquadram no Plano Estratégico do
governo - e sente-se que há oportunidades que podem ajudar a combater um
processo de fragmentação urbano e imagético e de decadência económica. A questão
está na capacidade de entendermos que todos temos um dever de cooperação.
Câmara,
Universidade e Instituições e Serviços Públicos, e Empresas, têm de constituir
uma frente unida, sem desconfianças nem desfalecimentos, definindo uma agenda
comum de atuação: “Um Compromisso Por Coimbra”. E como seria bom vê-lo a ser
assinado no próximo 4 de Julho – Dia da Cidade.
(Artigo
publicado na edição de 10 de Abril de 2014, do Diário de Coimbra)
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