quinta-feira, 10 de abril de 2014

MEDO E ESPERANÇA NO FUTURO.



1. Nunca como hoje percebemos como a política é fraca face aos poderes financeiros e da comunicação social. Os políticos acabam, por isso, a fazer, no essencial, o jogo mediático e o jogo da finança, que tantas vezes se entrelaçam. Quando, numa sociedade cada vez mais complexa, precisávamos de clarividência e coragem, o que temos vindo a suportar é sobretudo o discurso da irresponsabilidade que, quase sempre, é cínico ou trágico. E isto é verdadeiramente assustador quando se pensa que aos políticos cabe conceber o futuro. Aliás a grande conquista política dos últimos anos é sobretudo de natureza semântica. Veja-se que, apesar do acordo ortográfico, ajustamento mantem a grafia, mas por obra e graça dos partidos que nos governam passou a ter um significado diferente. Agora significa: empobrecimento, retrocesso social, desvalorização do trabalho, mão-de-obra barata. Isto é, uma formulação de comunicação soft para dar cobertura a uma estratégia de obtenção do lucro máximo por parte de empresas e entidades financeiras a que a crise garante segurança nos dividendos e reforçadas alavancas de exploração futura. 
 
Sintoma da fragilidade política é, também, o facto de os temas políticos terem passado a secundários relativamente às personalidades políticas, levando à ausência de um debate de ideias por troca com um afrontamento de questões de carácter, o que gera uma enorme confusão e a erosão fatal dos atores políticos. Sabemos que o processo de modernização da sociedade leva a um discurso sobre a perda de valores e a alguma desorientação, o que origina nos cidadãos aquilo que Marcel Gauchet designou por “patologia da despertença” e que hoje é profundamente notório no nosso país, mas para o qual é difícil encontrar antídoto perante a confusão reinante a nível governamental. Que os deuses nos ajudem a substituir, com a maior brevidade, parte da nossa superestrutura política: Assembleia e Governo, sem o que as pragas do Egipto parecerão uma brincadeira face ao que vamos sofrer nos próximos anos.
2. Claro que a irresponsabilidade também começa naquela postura do indivíduo puro, que não deve nada à sociedade mas dela exige tudo. Nós, aqui por Coimbra, temos uma forma lírica “Coimbra tem mais encanto na hora da despedida.”, que apela à saudade na partida, o que é sem dúvida bonito. Mas precisávamos tanto de “cantar” um empenhamento constante de todos na construção de uma Coimbra, que sendo cada vez mais cosmopolita precisa de manter as suas particularidades. Aliás, os últimos tempos têm trazido algumas boas notícias – que são mérito nosso e não se enquadram no Plano Estratégico do governo - e sente-se que há oportunidades que podem ajudar a combater um processo de fragmentação urbano e imagético e de decadência económica. A questão está na capacidade de entendermos que todos temos um dever de cooperação. 

Câmara, Universidade e Instituições e Serviços Públicos, e Empresas, têm de constituir uma frente unida, sem desconfianças nem desfalecimentos, definindo uma agenda comum de atuação: “Um Compromisso Por Coimbra”. E como seria bom vê-lo a ser assinado no próximo 4 de Julho – Dia da Cidade.

(Artigo publicado na edição de 10 de Abril de 2014, do Diário de Coimbra)

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