Apesar
dos pronunciamentos que todos os dias ouvimos é óbvio que em política a
honestidade e o realismo não suscitam grande adesão dos eleitores. Há
necessidade de acreditar num futuro melhor e diferente e isso leva-os, muitas
vezes, por razões emocionais, a uma escolha frequente de projetos
inconsistentes e de políticos enganadores. A política é, em larga medida, uma
arte e, como tal, joga com a emoção pelo que é frequente a afirmação de que A
ou B são “grandes políticos” uma vez que apesar de vazios de ideias e de
comportamentos que suscitam dúvidas são bons atores. E os cidadãos até os
apreciam por isso.
Abril
trouxe-nos a liberdade, a democracia, o estado social, mas nós esquecemo-nos de
investir na sua preservação e desenvolvimento descurando a forma de
recrutamento e de preparação dos nossos representantes, que leva a sermos
representados por muitos que reconhecidamente não são os melhores. A lista
conjunta do PSD e CDS às europeias, que tem a sua génese na crise Paulo Portas,
é sem dúvida exemplo de uma lista fraca, mesmo medrosa, quando se exigiria uma
representação forte no Parlamento Europeu particularmente neste momento difícil
que a Europa vive.
Penso
podermos dizer, parafraseando alguém com elevadas responsabilidades políticas,
que estamos perante uma situação de inconseguimento de uma adequada
representação política.
2. Obviamente que este mal geral, de gravosas consequências,
também se verifica por aqui. Temos o exemplo, a nível autárquico, do que foi o
mais pernicioso período de gestão autárquica do nosso Município face à
liderança camarária que tivemos no mandato iniciado em 2002 e cujas nefastas
consequências vamos por muito tempo ter de suportar. Independente de uma gestão
caótica, nunca, como no mandato então iniciado, a Câmara foi alvo de uma tão
grande e grave desqualificação ética.
Porque
a recuperação deste abalo é lenta, dolorosa e difícil, para mais num contexto
eleitoral de grande abstenção e de alguma desnecessária fragmentação político-partidária,
os atuais órgãos municipais são chamados a travar um combate quotidiano de
transparência e de dignificação através de uma inquestionável ética
republicana. Este é talvez o maior desafio que atual Câmara e Assembleia
Municipal hoje enfrentam.
Coimbra
tem sabido resistir a muita coisa mas é bom perceber que a cidade está muito
ferida e que tem graves maleitas internas, pelo que não pode voltar a suportar
o inconseguimento de uma adequada governance
autárquica.
(Artigo publicado na edição de 27 de Março de 2014, do Diário de Coimbra)
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