1. Ainda não me tinha recomposto do esforço feito a puxar
pelas meninges para ver se compreendia como é que o país estava melhor e os
portugueses pior, quando soube da descoberta de um novo dinossauro europeu na Lourinhã
- o terrível “torvosaurus gurneyi”. Depois, com óbvio deleite, fiquei a saber
que os “101 dálmatas” são motivo de inspiração para as europeias e de seguida
apanho um brutal murro no estômago com a análise do presidente da República que
faz antever que vou morrer caloteiro Parece, portanto, que o país é apetecível
desde o jurássico e que agora até está melhor apesar dos portugueses, que
encaram a europa com uma perspetiva lúdico-canina e são uns caloteiros sem
remissão.
Mas,
mal tinha acabado de escrever este parágrafo quando surge um Manifesto,
subscrito por um variado leque de personalidades da nossa vida pública e
política - e que é talvez a posição pública mais interessante e importante
tomada no nosso país nos últimos anos -, a propor a reestruturação da atual
divida pública. Deduzi que esta tomada de posição, para mais de cidadãos
informados, responsáveis e patriotas, tenderia a ajudar o governo numa
negociação com os parceiros internacionais num momento crucial. Pois bem, o
primeiro-ministro, apelador de consensos e perante um tão importante consenso,
a primeira coisa que fez foi refutar o referido Manifesto.
Várias
serão as razões para a rápida reação do primeiro-ministro mas penso que há uma
passagem no Manifesto que o terá motivado sobremaneira e em que se diz: “Sem
reestruturação da dívida, o Estado continuará enredado e tolhido na vã
tentativa de resolver os problemas do défice orçamental e da dívida pública
pela única via da austeridade. Deste modo, em vez de os ver resolvidos,
assistiremos muito provavelmente ao seu agravamento em paralelo com a acentuada
degradação dos serviços e prestações provisionadas pelo sector público.” É que
este é, exatamente, um dos objetivos políticos centrais do atual governo.
2. Sobre a política
do governo de Coimbra não há manifestos. Também a sua eleição é recente. Mas é
bom ter consciência de que, apesar dos nós que tem de desatar e dos problemas
que herdou, é urgente dar expressão ao prometido “mandato novo”. Hoje as formas
e os tempos tradicionais da gestão e da ação política estão em crise, e os
meses, os dias e a horas são cada vez mais curtos sendo, por isso, imperioso
“voar politicamente”. A cada dia que passa sente-se, com maior acuidade, a
necessidade de combater o desânimo que se nota em muitos daqueles que
trabalham, vivem e amam a sua cidade. Todos têm consciência de que este não é o
tempo das grandes obras, mas sim o tempo de aproveitamento das potencialidades
endógenas e da sua potenciação, particularmente a nível cultural, assim como
sabem que há feridas a tratar mas esperam, sobretudo, uma rápida injeção de
vitaminas de novidade e de criatividade.
(Artigo
publicado na edição de 13 de Março de 2014, do Diário
de Coimbra)
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