quinta-feira, 13 de março de 2014

COM E SEM MANIFESTO



1. Ainda não me tinha recomposto do esforço feito a puxar pelas meninges para ver se compreendia como é que o país estava melhor e os portugueses pior, quando soube da descoberta de um novo dinossauro europeu na Lourinhã - o terrível “torvosaurus gurneyi”. Depois, com óbvio deleite, fiquei a saber que os “101 dálmatas” são motivo de inspiração para as europeias e de seguida apanho um brutal murro no estômago com a análise do presidente da República que faz antever que vou morrer caloteiro Parece, portanto, que o país é apetecível desde o jurássico e que agora até está melhor apesar dos portugueses, que encaram a europa com uma perspetiva lúdico-canina e são uns caloteiros sem remissão.  
 
Mas, mal tinha acabado de escrever este parágrafo quando surge um Manifesto, subscrito por um variado leque de personalidades da nossa vida pública e política - e que é talvez a posição pública mais interessante e importante tomada no nosso país nos últimos anos -, a propor a reestruturação da atual divida pública. Deduzi que esta tomada de posição, para mais de cidadãos informados, responsáveis e patriotas, tenderia a ajudar o governo numa negociação com os parceiros internacionais num momento crucial. Pois bem, o primeiro-ministro, apelador de consensos e perante um tão importante consenso, a primeira coisa que fez foi refutar o referido Manifesto.  

Várias serão as razões para a rápida reação do primeiro-ministro mas penso que há uma passagem no Manifesto que o terá motivado sobremaneira e em que se diz: “Sem reestruturação da dívida, o Estado continuará enredado e tolhido na vã tentativa de resolver os problemas do défice orçamental e da dívida pública pela única via da austeridade. Deste modo, em vez de os ver resolvidos, assistiremos muito provavelmente ao seu agravamento em paralelo com a acentuada degradação dos serviços e prestações provisionadas pelo sector público.” É que este é, exatamente, um dos objetivos políticos centrais do atual governo.

2. Sobre a política do governo de Coimbra não há manifestos. Também a sua eleição é recente. Mas é bom ter consciência de que, apesar dos nós que tem de desatar e dos problemas que herdou, é urgente dar expressão ao prometido “mandato novo”. Hoje as formas e os tempos tradicionais da gestão e da ação política estão em crise, e os meses, os dias e a horas são cada vez mais curtos sendo, por isso, imperioso “voar politicamente”. A cada dia que passa sente-se, com maior acuidade, a necessidade de combater o desânimo que se nota em muitos daqueles que trabalham, vivem e amam a sua cidade. Todos têm consciência de que este não é o tempo das grandes obras, mas sim o tempo de aproveitamento das potencialidades endógenas e da sua potenciação, particularmente a nível cultural, assim como sabem que há feridas a tratar mas esperam, sobretudo, uma rápida injeção de vitaminas de novidade e de criatividade. 

(Artigo publicado na edição de 13 de Março de 2014, do Diário de Coimbra)

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