Para além do agradecimento
que lhe é devido, pelas emoções estéticas que a sua obra nos provoca, Joan Miró
deve merecer, hoje, dos portugueses um agradecimento especial porque uma parte
do seu legado artístico levou a conseguir do governo português aquilo que a
generalidade dos portugueses, os partidos políticos, os analistas e
comentadores e até os jornalistas ainda não tinham conseguido obter: uma ideia
do governo sobre política cultural.
Ficámos assim a saber,
graças a este desgraçado episódio, que a cultura é no governo uma prioridade de
vão de escada. Aliás, o espetáculo surreal a que estamos a assistir leva-nos à
conclusão de que Oliveira e Costa tem mais sensibilidade cultural do que Passos
Coelho. Não será mesmo descabido pensar que, com este primeiro ministro e o seu
ajudante para a Cultura, o acervo do Museu dos Coches não venha a ser
brevemente colocado numa daquela feira de carros em 2.ª mão.
Claro que não será
despiciendo esperar que entretanto virá alguém do governo ou dos partidos que o
apoiam, argumentar que esta polémica foi um raro momento de divulgação cultural
porque hoje por esse país fora, entre dois golos de cerveja ou o beberricar de
um café, toda a gente fala no Miró como se ele fosse visita lá de casa e
partilhasse os mesmos gostos clubísticos e, aí, tenho de me render foi uma boa
jogada cultural.
Fica-me agora a
curiosidade de saber que outras obras de arte andam lá pelos escombros do BPN,
quantas é que já terão sido vendidas e quantas não estarão dependuradas em
paredes privadas, dadas ao desbarato, com base no critério Oliveira e Costa de
compra e venda de acções aos seus compagnons
de route.
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