quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

GRÀCIES JOAN MIRÓ



Para além do agradecimento que lhe é devido, pelas emoções estéticas que a sua obra nos provoca, Joan Miró deve merecer, hoje, dos portugueses um agradecimento especial porque uma parte do seu legado artístico levou a conseguir do governo português aquilo que a generalidade dos portugueses, os partidos políticos, os analistas e comentadores e até os jornalistas ainda não tinham conseguido obter: uma ideia do governo sobre política cultural.

Ficámos assim a saber, graças a este desgraçado episódio, que a cultura é no governo uma prioridade de vão de escada. Aliás, o espetáculo surreal a que estamos a assistir leva-nos à conclusão de que Oliveira e Costa tem mais sensibilidade cultural do que Passos Coelho. Não será mesmo descabido pensar que, com este primeiro ministro e o seu ajudante para a Cultura, o acervo do Museu dos Coches não venha a ser brevemente colocado numa daquela feira de carros em 2.ª mão.  

Claro que não será despiciendo esperar que entretanto virá alguém do governo ou dos partidos que o apoiam, argumentar que esta polémica foi um raro momento de divulgação cultural porque hoje por esse país fora, entre dois golos de cerveja ou o beberricar de um café, toda a gente fala no Miró como se ele fosse visita lá de casa e partilhasse os mesmos gostos clubísticos e, aí, tenho de me render foi uma boa jogada cultural.

Fica-me agora a curiosidade de saber que outras obras de arte andam lá pelos escombros do BPN, quantas é que já terão sido vendidas e quantas não estarão dependuradas em paredes privadas, dadas ao desbarato, com base no critério Oliveira e Costa de compra e venda de acções aos seus compagnons de route.

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