Na sequência da operação mediática de desculpa e martírio realizada pelo demissionário presidente da Câmara de Coimbra é inevitável que o Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos seja chamado a abrir um processo de beatificação.
Ao tão vasto sofrimento, que foi amplamente exposto, falta tão só que agora que sejam conhecidos alguns "milagres" para que venhamos a ter mais um "beato" em Coimbra, e logo numa área tão desacreditada como a política.
Como em 1983 foi abolido o Advogado do Diabo, tudo será, porventura, célere, apesar das dificuldades que se irão levantar quando o titular do processo iniciar a sua investigação porque o "mártir" demissionário presidente começa por se justificar com a má vontade governamental contra a sua gestão da cidade quando, logo em 2002, é ele que faz o grande apelo público, quando aquele decidiu acabar com o Museu da Ciência e da Técnica: "Deixem governo governar!".
Depois queixa-se da falta de investimento e da atenção do governo quando foi ele próprio que amputou e estrangulou o PólisCoimbra, que era apoiado pelo governo. Acabou com o projecto "Estações com Vida", argumentando que a Estação Nova não podia ser o Fórum Cultural Miguel Torga, que estava previsto. Clamou contra o Euro 2004 e as obras no Estádio, apesar de o ter inaugurado por três vezes e ter gasto milhões de euros num novo Estádio em Taveiro. Mais ainda, aprovou um "espantoso" processo EuroStadium para salvar as finanças municipais, cujos resultados só Deus conhece...
Também, o bondoso instrutor do processo de beatificação, encontrará, nas alegações do "mártir" demissionário presidente, um conjunto de contradições tão vastas e tão evidentes que se sentirá confuso. Olhará para a voragem despesista que protagonizou, com despesas correntes e a contratação de "pessoal", que o deixará confuso, porque ao mesmo tempo reduzia drasticamente as verbas para a cultura e acusava os agentes culturais de amiguismo...
Contristado o instrutor olhará para outra relevante afirmação de que com a sua saída, diz o "mártir" demissionário presidente, haverá mais coesão no Executivo municipal, quando este tanto trabalhou para essa coesão correndo com diversos dos "seus" vereadores em nome de uma uma unidade política e de acção coesa por parte da maioria que encabeçava. Aliás talvez o argumento da coesão tenha mais a ver com uma questão de poder pessoal e absoluto vazio de visão e estratégia para uma cidade que colocou à deriva.
Por outro lado, o perplexo instrutor, sentirá o drama de saber que o "mártir" demissionário presidente foi eleito contra a co-incineração e ela é um facto e que chegou à Câmara depois de uma afirmada convicção de que era contra o Metro e agora diz que se demite porque não vai haver Metro...
Também lerá, o instrutor do processo, que o "mártir" demissionário presidente deu à estampa, com pompa e circunstância, um livro com o título "O Poder é Solúvel", quando um primeiro ministro se demitiu, em condições políticas particularmente difíceis e agora, num quadro de estabilidade política, apoiado por uma maioria absoluta vê o "mártir" demissionário presidente fugir ao compromisso assumido com os cidadãos de Coimbra. Neste caso o poder é mais do que solúvel...
O mesmo instrutor acabará por se arrepiar com a grosseira violação da ética política, através a nomeação do presidente de um clube de futebol para tutelar a área do urbanismo dando azo a um conjunto de suspeições e de processos judiais como nunca tinha acontecido na Câmara de Coimbra.
Nesta altura o instrutor do processo começará a pensar
na afirmação de Luigi Pirandello "Os facto são como os sacos; quando
vazios não se têm de pé." e ficará na dúvida se no meio disto tudo os
"factos" apontados pelo "mártir" demissionário presidente não passarão
de um monte de nada.
Aliás o instrutor do processo de beatificação temerá se as redundantes justificações de fuga não terão mais a ver com a consciência do "mártir" demissionário presidente que conduziu a Câmara de Coimbra ao descalabro financeiro, à irrelevância política e ao descrédito ético e ao medo de tudo o que vai acontecer em 2011, nomeadamente falta de dinheiro para o essencial, eventual condenação do "seu" ex-director municipal do urbanismo, etc., etc., etc...
Por isto e por muito mais é natural que um desejado processo de beatificação, pelo "mártir" demissionário presidente, acabe comprometido, até porque a sua fuga não vai dar azo a qualquer milagre mas quase certamente a uma instabilidade e confusão que não vai salvar ninguém. É que agora vamos ter um saco de gatos instalado na Câmara, para mais com um presidente de Câmara a quem falta legitimidade política para travar os combates do futuro de Coimbra.
Bom texto, camarada. Não quero dizer que os anteriores não tenham chama, mas este é mesmo o inferno. Gostei mesmo. Está inspirado...na causa dos santos, claro.
ResponderEliminarAbraço.