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Sabes, Covid-9, esta é uma conversa que não me agrada. Primeiro não
te vejo para te falar cara a cara, depois porque me dizem que andas
por aí, silencioso, à espera de uma oportunidade para me atacar, e
isso é desonesto.
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O teu silêncio é bem demonstrativo da tua perfídia, mas mesmo
assim não quero deixar de te perguntar como foste capaz de dar cabo
do mundo que eu conhecia? Diz-me lá o que te levou a trazer tanta
morte e destruição de surpresa e de forma gratuita? Tens noção do
sofrimento que em poucos meses trouxeste aos humanos de todas as
cores e de todos os credos?
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Pois! não respondes porque tudo te é indiferente, queres é
encontrar hospedeiros para te ires espalhando, fazendo crer que és
um justiceiro, que quer castigar os humanos que se matam em guerras
estúpidas, que espezinham os mais fracos e desprezam o sofrimento de
tantas crianças, por esse mundo fora.
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Eu, um simples humano cheio de defeitos e imperfeições, que vive
uma vulgar vida numa cidade pacifica e bonita, de um país pequeno
mas historicamente interessante e importante, não vejo em que é que
mereço o teu ódio. Sabes, estragaste-me o ano. Tinha vários
projetos, como tantos dos meus amigos e concidadãos, e de repente
deste cabo de tudo.
…
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Por causa de ti não posso conviver com os meus amigos, contra tua
vontade porque o que querias era apanhar-nos juntos para te espalhar
entre nós, e
também não posso
percorrer despreocupadamente as ruas da minha cidade e ir à Baixinha
comer um pastel de bacalhau e beber um café.
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Sei que não queres saber nem te interessa, mas já pensas-te – tu
pensas lá? - das tabernas, dos bares e das tasquinhas que, pela sua
pequenez de espaço puseste em crise e consequentemente quantos
espaços da minha cidade atacaste
mortalmente? E os
homens e mulheres que aí trabalhavam, há anos e anos, ganhando
pouco dinheiro mas muita
riqueza humana, o que vão fazer agora? Diz-lhes – eu sei que tu
não vais dizer nada, mas diz-lhes – como vão sobreviver e como é
que antigos espaços da cidade de
ruas estreitas e sinuosas,
vão sobreviver se por tua causa temos de andar afastados?
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Então, e agora que andávamos a apostar nos transportes coletivos,
não é que tu vens assustar os seus utilizadores, porque esse será
um dos teus locais favoritos para encontrar hospedeiros? E como é
que vãos sobreviver os taxistas se tu crias medo e ameaças o seu
instrumento de trabalho?
…
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Eu sei, que nós não tínhamos grandes ideias sobre o futuro de
Coimbra, falamos e andamos
muito atrás do passado, mas a verdade é
que vamos ter de
repensar tudo. Temos de revisitar a cidade e os projetos que tínhamos
em curso porque tu
vieste alterar muitas das escalas e
dos conceitos com que
trabalhávamos. Obrigas-nos
a um violento processo de reconstrução: pessoal; familiar;
e coletivo, e a agir com determinação e inteligência, recusando um
registo melancólico e saudosista e a procurar (espero bem que sim)
uma nova forma de vida vibrante e esperançosa.
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Não sei se tens consciência dos dilemas e das equações com que
nos vieste confrontar obrigando-nos a enfrentar duros trabalhos de
reconfiguração social e económica. A repensar a métrica urbana, o
peso da pobreza e do sofrimento e, ainda, a ter em conta que tendo a
cidade um perfil económico de prestação de serviços e de ensino e
sendo estas áreas a privilegiar em termos de teletrabalho e de
ensino à distância com a presença humana a diminuir, levando a
muitas e novas questões.
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Talvez o teu único mérito tenha sido o de mostrar a importância do
nosso Serviço Nacional de Saúde e, pensando bem, talvez também
tenhas feito perceber como é urgente construir uma Nova Maternidade
que não fique encravada num mastodôntico hospital nem sirva de base
a um heliporto.
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Mas sabes? meu grande f***o da p***a, há coisas que me retiraste e
que nunca te perdoarei: as gargalhadas, os sorrisos e os abraços dos
meus netos. Só não me tiras-te a esperança de que te vamos vencer.
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