quinta-feira, 5 de setembro de 2019

IMPORTANTE NÃO É O QUE SE DIZ, MAS QUEM O DIZ


É sabido que mais importante do que o que se diz é quem o diz.

Por exemplo: se eu disser que estou a planear uma intervenção nos jardins, rotundas, separadores centrais de ruas e avenidas, e espaços públicos de Coimbra, plantando flores ou instalando canteiros, de modo a que a cidade vença o ar vazio e pouco cuidado que a diminui e aumente a auto-estima dos seus habitantes e a empatia dos visitantes, ninguém levará a sério esta afirmação ainda que com ela possa concordar.

Com efeito tendo o único poder de sonhar não posso fazer nada de concreto e, como tal, posso dizer coisas interessantes que se limitam a morrer frente aos olhos de quem me lê.

Outra coisa seria o presidente da Câmara dizer exatamente o mesmo. Aí haveria de imediato quem se congratulasse e que aguardasse expectante que no outono que aí vem, bom momento para início dos trabalhos, se começasse a ver a terra remexida para as plantações e a colocação dos primeiros canteiros a expulsarem carros de algumas das nossas simpáticas pracinhas que são importantes espaços de respiração no tecido urbano.

Como se percebe a mesma afirmação suscita duas atitudes diferentes porque quem as faz tem responsabilidades, capacidades e estatutos totalmente diferentes.

Outro exemplo. Em 13 de dezembro de 2018 publiquei, neste mesmo espaço, um artigo “Obrigado à comunicação social”, em que defendi a importância de uma comunicação social livre e forte como condição essencial à nossa democracia e à nossa respiração cívica, e em sugeria que as Câmaras Municipais atribuíssem uma assinatura anual dos jornais locais aos jovens residentes nos seus Municípios, com base numa solução a acordar com esses órgãos de comunicação social.

Claro que a minha sugestão, que não teve qualquer recetividade, permitiria não só ajudar de forma imparcial e isenta uma comunicação social que notoriamente enfrenta dificuldades, mas também ganhar e fidelizar leitores.

Pois bem, não é que por estes dias, o presidente da República veio defender incentivos do Estado aos media, face às dificuldades que estes atravessam, sugerindo, por exemplo, incentivos à leitura de jornais por jovens nas escolas, através do financiamento de assinaturas.

Ora se a minha proposta não terá merecido mais do que um condescendente sorriso momentâneo, a sugestão do presidente da República tem um peso relevante e os responsáveis políticos, concretamente os autárquicos, deviam considerá-la. É que sem prejuízo de medidas de âmbito governamental há uma necessidade, que para Coimbra é uma emergência, de conseguir criar uma visão, uma estratégia e uma vontade regional que precisa da voz da comunicação.

Para que se possa falar de um aeroporto para servir a região centro ou de um sistema de mobilidade trans-municipal é preciso criar sinergias de identidade e de proximidade que só serão possíveis com uma comunicação social regional forte e livre.

Por isso, talvez fosse bom dar atenção não às minhas mas às sugestões do presidente da República, porque verdadeiramente importante não é o que se diz mas quem o diz.

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