quinta-feira, 28 de junho de 2018

SETAS CULTURAIS


Passo frequentemente pela aldeia onde nasci. Digo passo e não vou, porque permaneço lá pouco tempo e conheço cada vez menos os seus habitantes o que também motiva a minha ignorância dos motivos que levam a que os responsáveis locais não estejam a preparar uma candidatura a Capital Europeia da Cultura.

É sabido que em 2027 haverá uma Capital Europeia da Cultura portuguesa, o que está a suscitar uma intensa e até insuspeita ambição cultural que tem vindo a fazer surgir candidaturas de norte a sul, o que é digno de registo e de elogio, e que nos faz lembrar que estamos a viver um novo tempo, a nível de políticas públicas, em que a cultura assume um papel cada vez mais relevante.

Mais ainda, quando se pensa que se preparam candidaturas para um evento a realizar daqui a nove anos, num país que se identifica muito mais com o desenrasca do que com o planeamento, não podemos deixar de nos congratular com todo este movimento e de agradecer a iniciativa a Melina Mercouri e à União Europeia que lhe tem dado continuidade.

Sobre as equipas de trabalho das candidaturas confesso a minha ignorância genérica quanto à sua constituição. No que toca a Coimbra, cuja constituição foi recentemente dada a conhecer, é reconhecido o mérito pessoal e profissional de alguns dos seus membros e a surpresa de vê-la integrada por dois dirigentes políticos do PSD, um de Coimbra e outro de Leiria. Tanto quanto se percebe não há uma outra tão forte representação de dirigentes partidários.

Assim, caso a candidatura de Coimbra seja vitoriosa, o PSD reivindicará legitimamente uma vitória, e o projeto cultural que irá emergir na cidade dependerá decisivamente do seu contributo. É uma vitória política à la longue de que, face ao atual contexto político-partidário, não seria de todo expectável.

Dir-se-á que não faz sentido esta consideração de índole político-partidário, mas a verdade é que ela foi tornada evidente no exato momento em que foi conhecida a equipa e até me parece que em Leiria há quem olhe para a candidatura de Coimbra como um ato político revanchista e que fale, não sei porquê, em traição.

Vamos aguardar pela decisão final e esperar que não subsistam animosidades tão recorrentes na nossa cultura política, e, sobretudo, que a ambição cultural não esmoreça porque o que menos se deseja é que a paixão pela cultura seja efémera e utilizada como arma de arremesso.

Podendo Coimbra e Leiria constituir-se como um polo determinante na afirmação do centro do país, pelas características próprias e complementares e pela proximidade geográfica, espera-se que não haja por aí uma seta a mais que acrescente dificuldade a uma aproximação e cooperação, que é importante para as duas cidades e para o país.





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