Passo
frequentemente pela aldeia onde nasci. Digo
passo
e não
vou, porque permaneço lá pouco tempo e conheço cada vez menos os
seus habitantes o que também motiva a minha ignorância dos motivos
que levam a que os responsáveis locais não estejam a preparar uma
candidatura a Capital Europeia da Cultura.
É
sabido que em 2027 haverá uma Capital Europeia da Cultura
portuguesa,
o que está a suscitar uma intensa e até insuspeita ambição
cultural que tem
vindo a fazer
surgir candidaturas de
norte a sul, o que é digno de registo e de elogio, e
que nos faz lembrar que estamos a viver um novo tempo, a nível de
políticas públicas, em que a cultura assume um papel cada vez mais
relevante.
Mais
ainda, quando se pensa que se preparam candidaturas para um evento a
realizar daqui a nove anos, num país que se identifica muito mais
com o desenrasca do que com o planeamento, não podemos deixar de nos
congratular com todo este movimento e de agradecer a iniciativa a
Melina Mercouri e à União Europeia que lhe tem dado continuidade.
Sobre
as
equipas de trabalho das
candidaturas confesso a minha ignorância genérica quanto à sua
constituição. No
que toca a Coimbra, cuja constituição foi recentemente dada a
conhecer, é
reconhecido o mérito pessoal e profissional de alguns dos seus
membros e a surpresa de vê-la integrada por dois dirigentes
políticos do PSD, um de Coimbra e outro de Leiria. Tanto quanto se
percebe não há uma outra tão forte representação de dirigentes
partidários.
Assim,
caso a candidatura de Coimbra seja vitoriosa, o PSD reivindicará
legitimamente uma vitória, e o projeto cultural que irá emergir na
cidade dependerá decisivamente do seu contributo. É uma vitória
política à
la longue de
que, face ao atual contexto político-partidário, não seria de todo
expectável.
Dir-se-á
que não faz sentido esta consideração de índole
político-partidário, mas a verdade é que ela foi tornada evidente
no exato momento em que foi conhecida a equipa e até me parece que
em Leiria há quem olhe para a candidatura de Coimbra como um ato
político revanchista e que fale, não sei porquê, em traição.
Vamos
aguardar pela decisão final e esperar que não subsistam
animosidades tão recorrentes na nossa cultura política, e,
sobretudo, que a ambição cultural não esmoreça porque o
que menos se deseja é que a paixão pela cultura seja efémera e
utilizada como arma de arremesso.
Podendo
Coimbra e Leiria constituir-se como um polo determinante na afirmação
do centro do país, pelas características próprias e
complementares e pela proximidade geográfica, espera-se
que não
haja por aí uma seta a mais que acrescente dificuldade a uma
aproximação e cooperação, que é importante para as duas cidades
e para o país.
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