Sempre
que há eleições o tema da transparência vem à baila. A transparência na política
tornou-se, nos últimos anos, numa exigência central dos cidadãos e por isso é
natural que na sociedade da informação e da observação em que vivemos, e em que
há um escrutínio permanente das decisões políticas e dos seus autores, ela
assuma uma relevância particular.
A
transparência passou a ser considerada como uma necessidade para melhorar a
qualidade da democracia e porque hoje os eleitores vivem no mesmo ambiente
informativo que os atores políticos estes vêm-se confrontados com a necessidade
de uma nova forma de exercer o poder, o que diga-se não é fácil porque, na generalidade,
a escola política ainda não conseguiu encontrar o adequado programa de
formação.
Aliás,
não deixa de ser curioso que à conta da desejada transparência, como forma de
melhorar a qualidade da democracia, se tenha vindo a fragilizar a própria política,
pela exposição a que está permanentemente exposta e pela forma como é corroída
pela coscuvilhice nas redes sociais e as notícias falsas que tiveram o seu
recente apogeu com a eleição do atual presidente americano.
Depois,
acresce, que tal como em outras questões se entrou por um caminho de
generalização de vícios e pecadilhos, metendo todos os políticos no mesmo saco,
que leva a que perante qualquer decisão surja sempre a dúvida metódica de que
por detrás há uma intenção oculta, que favorece os seus autores, os seus correlegionários ou, pior ainda, um nebuloso círculo de amigos.
Mesmo
que, feita uma análise correta e fina das decisões políticas, se conclua que a
generalidade revela a obediência a um programa político sufragado e a uma defesa
do interesse geral a verdade é que está criada a ideia da defesa do “tacho” e
do benefício de grupo, e esta é uma ideia extremamente difícil de combater, para
mais quando se tomam algumas decisões de incompreensível racionalidade.
Depois
dos tempos da indignação passámos aos da perplexidade e consequentemente aos da
credulidade perante as mais infundadas notícias.
Chegados
aqui, podem-se contestar rankings de transparência, desmontar os critérios adotados
e “matar” os mensageiros que não há nada a fazer. Criada a perceção de que há
um poder que vive na intransparência não há argumentos ou insofismáveis
demonstrações matemáticas que consigam provar o contrário. E isto tem um custo
político!
(Artigo
publicado na edição de 23 de fevereiro, do Diário de Coimbra)
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