quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

ORAÇÃO



Apesar deste ser um ano de eleições autárquicas, duvido que algum dos meus concidadãos tenha incluído nos seus desejos de passagem de ano, quando comia as doze uva passa, a ambição de ver eleito um novo e entusiasmante executivo municipal.

Contudo, estou certo, que alguns, talvez mais do que se pensa, terão considerado como um dos seus primeiros desejos ser eleitos para um cargo autárquico. É normal que assim seja, porque o que estava em causa eram desejos pessoais e há quem invista durante meses e anos numa eleição redentora.

O que não há dúvida é que todos, no silêncio dos seus pedidos, não deixam de aspirar a um ano feliz, cheio de realizações pessoais, ainda que muitas dessas realizações dependam da vontade, da capacidade e do mérito político daqueles que desejam ser atores políticos e se propõe a tal.

Este desejo de atingir a felicidade exercendo um cargo político, quando a política é tão mal vista e os políticos sofrem aquilo que alguém chamou de “síndrome de Tocqueville”, pelos privilégios que lhe são atribuídos, sendo ainda alvo de um intenso escrutínio que ultrapassa e esfera puramente institucional, não deixa de ser paradoxal.

É, no entanto, certo que não teremos falta de candidatos ao governo da nossa cidade e é também certo que a forma e as características das suas candidaturas não deixam de representar aquilo que é o estado da arte política na nossa cidade. 

Numa democracia representativa, como a nossa, partidos fortes, dinâmicos, abertos à sociedade, capazes de lerem os sinais que, das mais diversa formas, vão sendo transmitidos, geram bons candidatos. Pelo contrário, a fragilidade partidária e o alheamento perante as ambições coletivas levam à frustração e ao alheamento dos eleitores com os resultados conhecidos de elevadas taxas de abstenção ou com escolhas impensáveis, como está a acontecer por esse mundo fora. 

É por isso bom um esforço de entendimento da nossa realidade e ter em conta como diz Alberoni, em “Viagem pela Alma Humana”: “Os grandes êxitos e as grandes catástrofes na vida dos indivíduos, das empresas e das nações acontecem porque as pessoas não se apercebem de que alguma coisa mudou de forma subterrânea. Continuam a comportar-se como antes e vêem-se desarmadas contra a nova situação.”

Neste momento, face ao que se conhece e ao que se adivinha, o mais acertado é deixar um pedido: “Oremos para que em Coimbra, tudo corra bem.”

(Artigo publicado na edição de 9 de fevereiro, do Diário de Coimbra)

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