quinta-feira, 5 de maio de 2016

PROVAS DE AMOR



Li há dias que o poeta francês Pierre Réverdy dizia que “não há amor, mas provas de amor” e fiquei a pensar no assunto, nomeadamente na recorrente afirmação de amor a Coimbra, por tanta e boa gente.

Aliás, até me pareceu ter entendido recentes declarações do presidente da Câmara do Porto, sobre o centralismo lisboeta quanto á utilização dos fundos comunitários, como uma prova de amor a Coimbra, porque teve a lembrança de referir, para além do norte, o centro como um espaço prejudicado pelas políticas do poder central.

Claro que muitas vezes estas afirmações de amor são meramente circunstanciais, com o mero objetivo de ganho de escala, mas penso que apesar disso não as devemos desprezar nem desperdiçar e que será bom aproveitar o balanço para reafirmar o nosso desconforto com algum imerecido desprezo do Terreiro do Paço.

Digo algum imerecido desprezo porque nós e as nossas elites locais não somos muito convincentes em dar provas de amor à nossa cidade e por isso não temos autoridade para grandes exigências. A grande tendência, bem evidente nas redes sociais, é de valorizar o passado. São fotografias de espaços ou edifícios de outros tempos que merecem o “gosto” mais rápido e numeroso, e são poucas as referências a novas instalações ou a empresas inovadoras que são verdadeiramente estratégicas ao nosso desenvolvimento.

Aliás, nas cerimónias de exaltação pública dos nossos esquecemos, frequentemente, os promotores de futuro. Por exemplo, há uma instituição como o Instituo Pedro Nunes e um número significativo de empresas da área das novas tecnologias que ali nasceram e que têm significativa projeção internacional e este facto é praticamente desconhecido do cidadão comum pelo que seria importante que no Dia da Cidade houvesse uma fórmula de reconhecimento e de exaltação pública do mérito destes promotores de futuro.

É que este é um motor invisível de desenvolvimento da nossa cidade porque, em boa medida, muito do nosso sucesso coletivo passa por aí, e por isso devemos-lhe, como prova de amor, trazê-lo para o campo da visibilidade, mais ainda porque traduz exemplarmente uma ambicionada relação entre ensino, investigação e o mundo empresarial.

Claro que há pequenas atenções que são grandes provas de amor e que nos convocam a comportamentos de gentileza e consideração para com a nossa cidade e, agora, que aí vem mais uma Queima, seria bom que muitos daqueles que vão acabar a sua vida académica e partir daqui, e que se dizem apaixonados por Coimbra lhe dediquem mais do que uma bebedeira ou a destruição de bens públicos e que a tratem com o respeito próprio do verdadeiro amor.     

(Artigo publicado na edição do Diário de Coimbra, de 5 de maio)

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