quinta-feira, 7 de abril de 2016

CARTÃO DE APRESENTAÇÃO



Há várias formas de nos apresentarmos e outras tantas de sermos apresentados. Nós; as nossas casas – é sabido que as paredes dos prédios são a pele dos seus moradores -; as nossas cidades; etc.

Há uns anos apareceu um painel informativo na A1 a sinalizar Coimbra com Cidade Museu. Não se percebeu como é que a Brisa chegou àquela conclusão, mas também ninguém quis saber, e houve de imediato um enorme clamor que levou à retirada dos painéis. A ideia de museu até poderia ser bondosa, ancorada numa visão de um espaço arquitetonicamente rico e simultaneamente cheio de vida em que acontecem coisas culturalmente interessantes, mas não era essa a visão da maioria dos cidadãos e por isso a ideia foi de imediato rejeitada. 

Não se admitia a ideia de uma cidade estática ainda que as criticas e os temas das tertúlias locais fossem recorrentes na afirmação de que a modorra tinha aqui uma das suas sedes, e houve que avançar uma alternativa tendo surgido a ideia salvadora da Cidade do Conhecimento.

Só que muitas vezes não é fácil vender certas ideias, particularmente num tempo de sobrevalorização da imagem, quando depois de ler o “cartão de apresentação” não se consegue encontrar uma clara correspondência na realidade. 

Aliás, um dos dramas lusitanos tem a ver com o cartão de cidadão em que fomos tornado no povo mais feio da Europa e arredores, com aquelas fotografias em que para além de nos despirem dos óculos, quem os tem é claro, dá, a todos, uma imagem de inaudita fealdade.

Habitantes de uma cidade também podem ser vistos, por quem chega, sob uma ótica referida por Marcel Proust: “As estações ferroviárias… não constituem, por assim dizer, parte da cidade, mas contêm tanto a essência da sua personalidade, como o nome pintado no letreiro”, o que se confessa não nos mostra lá muito jeitosos.   

Assim os pontos de chegada e as entradas da nossa cidade são sempre um dos cartões de apresentação de algo não abstrato mas da cidade e dos seus habitantes – de todos nós.

Ora será que quem chega a Coimbra nos vê como um coletivo de sábios e em que observa em cada esquina o conhecimento a escorrer pelas paredes dos edifícios? Não sei!

Há uns anos o presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, deu pública nota que iria oferecer a Coimbra uma estátua para embelezar a grande rotunda na entrada sul de Coimbra, junto ao Parque Verde. Isaltino foi para a prisão e a estátua nunca chegou. Foi pena. Quem nos diz que não teria sido uma interessante obra de arte e um simpático cartão de apresentação. 

(Artigo publicado na edição de 7 de abril, do Diário de Coimbra)

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