quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A ACADÉMICA NÃO TEM CULPA



Está anunciada uma assembleia geral extraordinária da Académica para análise das implicações da condenação - transitada em julgado - do clube e do seu presidente, por isso, apetecia-me republicar o que em tempo escrevi sobre as raízes desta desgraça. Tem atualidade e estou certo que hoje mereceria a atenção e a aprovação que não mereceu na altura. Aliás, tudo o que consegui então foi a ameaça com um processo judicial.
 
Não imagino o que a assembleia geral poderá vir a aprovar mas sei, como cidadão e sócio da Académica, que estamos perante uma situação que envergonha Coimbra e enxovalha a Académica.  

Quando alertei, clamei e me insurgi publicamente, como deputado municipal e cidadão, contra a situação criada pelo então presidente da Câmara, que é sem dúvida o grande responsável, foram poucos os que me acompanharam, apesar da evidência da desgraça que se adivinhava face à óbvia teia promíscua de interesses pessoais e político-partidários envolvendo a Câmara e a Académica.

Hoje temos dois condenados: a Académica e o seu presidente. Confesso a minha discordância com a decisão judicial, porque a Académica não deveria ter sido condenada. Se o presidente da Académica teve comportamentos que mereceram condenação também quem esteve por detrás da situação e dela se aproveitou merecia condenação, e nunca a Académica.

A Justiça foi injusta para com a Académica e também foi injusta pela omissão de condenação do autor principal da tramoia, conscientemente assumida e com óbvios motivos de lucro partidário, para mais num momento e num contexto de forte critica e repulsa pelas ligações promiscuas entre a política e o futebol.

Mas agora é tarde, Inês é morta. Pergunto-me, por isso, o que se pode fazer para mais quando nem a cidade nem os sócios da Académica souberam reagir no momento certo. Bem pelo contrário, o silêncio ou o aplauso abafaram qualquer repulsa cívica ou contestação societária permitindo três anos de acumulação promiscua, que tornaram este um verdadeiro case study

Coimbra e a Briosa foram desqualificadas com despudor e sem remorso. As duas foram afetadas de forma irreversível na sua honra, prestígio e imagem e a moral da história é que não só o exemplo de Pilatos é um excelente truque como frequentemente paga o justo pelo pecador.

A Académica vai pagar, já está pagar, e a Académica não tem culpa. 

(Artigo publicada na edição de 12 de fevereiro de 2015, do Diário de Coimbra)

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