1. Quero, senhor primeiro-ministro, rejeitar pública e frontalmente
o hipócrita agradecimento que me fez, como à generalidade dos portugueses, aquando
do anúncio da pseudo saída da troika.
Tudo aquilo que aconteceu nestes três últimos anos foi feito contra a minha
vontade, sem o meu consentimento e sem a minha concordância. Não aceito ser
cúmplice de uma verdadeira revolução neoliberal, a quem a rapaziada da escola
de Chicago que ainda por aí anda não hesitará a tirar o chapéu. O senhor, sem
ética e de uma forma mentirosa, feriu gravemente o estado social, em cuja
construção modestamente colaborei, pondo em crise a Saúde, a Educação, a
Justiça, a Investigação e o Desenvolvimento. Mais, a sua política afetou gravemente
a coesão nacional, criando um país mais desigual, mais pobre, matando a
esperança de futuro de uma geração e semeando a angústia nos mais idosos, nos
mais fracos e desprotegidos. O famoso ajustamento de que veio falando é como se
vê, apenas e tão só, a desvalorização do trabalho e a criação de uma bolsa
insuportável de desempregados para garantir mão-de-obra barata, destinada a
enriquecer uns tantos. Por isso, não me agradeça as tropelias que me fez e as
mentiras com que me foi presenteando durante estes anos da sua governação.
Peço-lhe,
aliás, que tenha a hombridade de parar o processo de intoxicação dos espíritos
que, com os seus conselheiros e assessores para a comunicação bem como os
oportunistas encartados que sempre se lambuzam na viscosidade do poder, se
entretêm a fazer defendendo políticas que não são mais do que a garantia da
continuação de uma emigração qualificada a um nível verdadeiramente impensável
e a da manutenção do país na cauda da Europa por muitos anos. O seu
agradecimento, que recuso, é uma ofensa!
2. Coimbra
integra a rede de cidades inteligentes. É uma notícia cujo significado e implicações
não me parece, que até ao momento, tenham sido explicadas aos cidadãos, e
estamos num tempo em que é cada vez mais importante a informação e o
esclarecimento público, porque só assim será possível o indispensável
envolvimento de todos. A Câmara tem de saber estar adequadamente no espaço
público, que hoje é diferente, tarefa que vem descurando. Aliás, há sintomas de
desarticulação política e comunicacional que começam a corroer as expectativas
e as esperanças de uma nova forma de encarar e realizar o governo autárquico na
nossa cidade. Obviamente que uma cidade inteligente implica uma gestão
inteligente, consentânea com os tempos que vivemos e os pergaminhos que
herdámos e, por isso, parece-me evidente a necessidade de uma reflexão na Praça
8 de Maio tendente a evitar a crispação, a incompreensão e a desmobilização dos
munícipes na realização da tarefa coletiva de vencermos o atavismo e o
provincianismo que nos manietam e de tornarmos Coimbra mais cosmopolita e
luminosa.
PS:
A boa notícia, destes dias, é que nenhum dos meus amigos foi recentemente
condecorado pelo presidente da República. Que alívio!
(Artigo
publicado na edição de 8 de maio de 2014, do Diário de Coimbra)
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