quinta-feira, 8 de maio de 2014

NÃO, OBRIGADO!



1. Quero, senhor primeiro-ministro, rejeitar pública e frontalmente o hipócrita agradecimento que me fez, como à generalidade dos portugueses, aquando do anúncio da pseudo saída da troika. Tudo aquilo que aconteceu nestes três últimos anos foi feito contra a minha vontade, sem o meu consentimento e sem a minha concordância. Não aceito ser cúmplice de uma verdadeira revolução neoliberal, a quem a rapaziada da escola de Chicago que ainda por aí anda não hesitará a tirar o chapéu. O senhor, sem ética e de uma forma mentirosa, feriu gravemente o estado social, em cuja construção modestamente colaborei, pondo em crise a Saúde, a Educação, a Justiça, a Investigação e o Desenvolvimento. Mais, a sua política afetou gravemente a coesão nacional, criando um país mais desigual, mais pobre, matando a esperança de futuro de uma geração e semeando a angústia nos mais idosos, nos mais fracos e desprotegidos. O famoso ajustamento de que veio falando é como se vê, apenas e tão só, a desvalorização do trabalho e a criação de uma bolsa insuportável de desempregados para garantir mão-de-obra barata, destinada a enriquecer uns tantos. Por isso, não me agradeça as tropelias que me fez e as mentiras com que me foi presenteando durante estes anos da sua governação. 
 
Peço-lhe, aliás, que tenha a hombridade de parar o processo de intoxicação dos espíritos que, com os seus conselheiros e assessores para a comunicação bem como os oportunistas encartados que sempre se lambuzam na viscosidade do poder, se entretêm a fazer defendendo políticas que não são mais do que a garantia da continuação de uma emigração qualificada a um nível verdadeiramente impensável e a da manutenção do país na cauda da Europa por muitos anos. O seu agradecimento, que recuso, é uma ofensa!

2. Coimbra integra a rede de cidades inteligentes. É uma notícia cujo significado e implicações não me parece, que até ao momento, tenham sido explicadas aos cidadãos, e estamos num tempo em que é cada vez mais importante a informação e o esclarecimento público, porque só assim será possível o indispensável envolvimento de todos. A Câmara tem de saber estar adequadamente no espaço público, que hoje é diferente, tarefa que vem descurando. Aliás, há sintomas de desarticulação política e comunicacional que começam a corroer as expectativas e as esperanças de uma nova forma de encarar e realizar o governo autárquico na nossa cidade. Obviamente que uma cidade inteligente implica uma gestão inteligente, consentânea com os tempos que vivemos e os pergaminhos que herdámos e, por isso, parece-me evidente a necessidade de uma reflexão na Praça 8 de Maio tendente a evitar a crispação, a incompreensão e a desmobilização dos munícipes na realização da tarefa coletiva de vencermos o atavismo e o provincianismo que nos manietam e de tornarmos Coimbra mais cosmopolita e luminosa. 

PS: A boa notícia, destes dias, é que nenhum dos meus amigos foi recentemente condecorado pelo presidente da República. Que alívio!

(Artigo publicado na edição de 8 de maio de 2014, do Diário de Coimbra)

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