O
que temos assistido nos últimos dias, de aproveitamento político-partidário dos
dramáticos acontecimentos em Pedrogão Grande que vitimaram dezenas de cidadãos,
alguns dos quais nas suas próprias casas, é qualquer coisa de que nos temos de
envergonhar.
Estou
convencido que na nossa democracia representativa nunca como neste caso a
generalidade dos cidadãos se sentiu tão mal representada. Somos o povo que
somos e temos os políticos que escolhemos, mas neste caso muitos deles foram de
uma baixeza que não tem nada a ver com os cidadãos que representam.
Se
nunca tinha acontecido uma tragédia como esta e se a generalidade dos cidadãos
demonstrou uma atitude de respeito e de solidariedade com as famílias afetadas também
nunca terá havido uma tão desbragada demonstração de despudor político-partidário.
Instalar
a dúvida com base em boatos, fazer uma guerra de listas de mortos, com
objetivos político-partidários e, talvez com outros objetivos ainda mais perversos,
porque não se percebeu qual era o tão grande interesse na lista, é qualquer
coisa de inaceitável. De uma coisa ninguém acredita: é de que foram atos
determinados por uma bondosa intenção, porque todos sabem que em política isso
não existe.
Sempre
se percebeu que o estava em causa não era uma questão de transparência. Aliás,
o primeiro ato desta tétrica e despudorada farsa política foi o anúncio de
mortes por suicídio que nunca aconteceram. Depois, lançar a dúvida, a suspeição
e colocar em crise o crédito de insuspeitas entidades do Estado que,
independentemente dos governos, sempre demonstraram um enorme profissionalismo
e competência, e que merecem o maior respeito e consideração a nível
internacional.
Andar
a arranhar-se durante dias por uma lista de mortos e a duvidar da idoneidade
dos serviços oficiais a troco da “investigação” de uma dita empresária, é
qualquer coisa que vai ficar como um dos momentos mais negativos da nossa
história coletiva.
Perante
uma tragédia sem precedentes tivemos a mais cabal exibição de mesquinhez
político-partidária e mais uma demonstração da falta de integridade e de
qualidade humana de um vasto conjunto de políticos. Foi um mau serviço prestado
ao país, à democracia e a todos nós.
Agora
só falta começarem a pedir as certidões de óbito para confirmar a causa de
morte e continuar a transformar a luta político-partidária numa tertúlia de
gatos-pingado.
Claro
que tudo se tem passado assim porque as vitimas, na sua maioria, eram gente
humilde que vivia isolada, a quem gradualmente foi sendo tirado futuro, porque
lhes tiraram médico, escola, transportes, etc. Se fossem vítimas da Quinta da
Marinha nada disto seria tratado deste modo.
Uma
vergonha!
(Artigo
publicado na edição de 27 de julho, do Diário de Coimbra)
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