quinta-feira, 9 de março de 2017

A ARTE DA MENTIRA



A mentira na política é uma senhora muito mais estimada do que aquilo que se afirma. Estranhamente os eleitores valorizam muito favoravelmente a capacidade dos seus candidatos para mentirem. 

Quem assiste a uma campanha eleitoral não pode deixar de se surpreender com o aplauso de discursos que, se percebe, não passam de um arrazoado de mentiras, de promessas impossíveis, ou de propostas irrealizáveis. 

Aliás, é frequente serem os próprios eleitores a forçarem os discursos mentirosos porque são estes que verdadeiramente rendem aplausos. Diz-se, e parece que com bom fundamento, que um político que fale verdade não ganha eleições. 

Sempre foi assim e por isso sempre foi muito importante para os políticos o domínio da arte da retórica até porque, como alguém disse, a política é também fazer coisas com as palavras. 

Mas a arte da mentira em política tem evoluído, depois do famoso “read my lips” de Bush sénior chegámos aos Trump’s twitters que surgem dia e noite, numa mistura surreal de mentiras e factos alternativos com múltiplas consequências, ou não fossem os EUA a grande potência mundial. 

É evidente que o problema é universal, basta ver o que se passa nas campanhas eleitorais na Holanda e na França, só que na América a nota máxima em mentira está atribuída ao já presidente que entende, bem como os seus apoiantes, que os principais inimigos do país são a imprensa e os jornalistas, o que nos leva a dizer abençoada imprensa e abençoados jornalistas que se batem na luta pela verdade.

Por cá também não faltam mentiras institucionais e a mais recente, a do Núncio, é prenúncio que outras virão. É que não é pensável que num tempo de enorme escrutínio sobre as finanças públicas, os responsáveis pela área que tiveram de elaborar orçamentos do Estado e fazer várias retificações orçamentais, em que os impostos foram obviamente alvo de profunda análise, não tenham percebido o que se estava a passar com o movimento de capitais para offshores. Aliás a não divulgação estatística não é mais do que uma decisão deliberada de encobrimento de uma situação conhecida.

Mas como diz o povo a mentira tem a perna curta e, por isso, apesar da sua estatura primeiro-ministro, vice-primeiro-ministro (responsável pela diplomacia económica), ministros das finanças e secretários de estado, rodeados por chefes de gabinete, adjuntos, assessores e consultores vão ser apanhados na corrida a favor da verdade.

(Artigo publicado na edição de 9 de março, do Diário de Coimbra)

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