A
mentira na política é uma senhora muito mais estimada do que aquilo que se
afirma. Estranhamente os eleitores valorizam muito favoravelmente a capacidade
dos seus candidatos para mentirem.
Quem
assiste a uma campanha eleitoral não pode deixar de se surpreender com o
aplauso de discursos que, se percebe, não passam de um arrazoado de mentiras,
de promessas impossíveis, ou de propostas irrealizáveis.
Aliás,
é frequente serem os próprios eleitores a forçarem os discursos mentirosos
porque são estes que verdadeiramente rendem aplausos. Diz-se, e parece que com
bom fundamento, que um político que fale verdade não ganha eleições.
Sempre
foi assim e por isso sempre foi muito importante para os políticos o domínio da
arte da retórica até porque, como alguém disse, a política é também fazer
coisas com as palavras.
Mas
a arte da mentira em política tem evoluído, depois do famoso “read my lips” de
Bush sénior chegámos aos Trump’s twitters que surgem dia e noite, numa mistura
surreal de mentiras e factos alternativos com múltiplas consequências, ou não
fossem os EUA a grande potência mundial.
É
evidente que o problema é universal, basta ver o que se passa nas campanhas
eleitorais na Holanda e na França, só que na América a nota máxima em mentira
está atribuída ao já presidente que entende, bem como os seus apoiantes, que os
principais inimigos do país são a imprensa e os jornalistas, o que nos leva a
dizer abençoada imprensa e abençoados jornalistas que se batem na luta pela
verdade.
Por
cá também não faltam mentiras institucionais e a mais recente, a do Núncio, é
prenúncio que outras virão. É que não é pensável que num tempo de enorme
escrutínio sobre as finanças públicas, os responsáveis pela área que tiveram de
elaborar orçamentos do Estado e fazer várias retificações orçamentais, em que
os impostos foram obviamente alvo de profunda análise, não tenham percebido o
que se estava a passar com o movimento de capitais para offshores. Aliás a não
divulgação estatística não é mais do que uma decisão deliberada de encobrimento
de uma situação conhecida.
Mas
como diz o povo a mentira tem a perna curta e, por isso, apesar da sua estatura
primeiro-ministro, vice-primeiro-ministro (responsável pela diplomacia económica),
ministros das finanças e secretários de estado, rodeados por chefes de
gabinete, adjuntos, assessores e consultores vão ser apanhados na corrida a
favor da verdade.
(Artigo
publicado na edição de 9 de março, do Diário de Coimbra)
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