quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

ANDAM A GOZAR CONNOSCO



Recentemente foi com o Ceira. Vieram umas chuvadas e Ceira foi inundada com graves consequências para os seus habitantes. Responsáveis? Só a natureza!

Agora foi o Mondego. Depois de meses de sequeiro veio uma chuva, nada de especial, e o Mondego apesar das obras de aproveitamento hidroeléctrico e de controlo e regularização do caudal, saltou das margens de forma intempestiva e desatou a fazer estragos. 

É óbvio que o que aconteceu por estes dias é de difícil explicação. Como é possível que perante os mecanismos de controlo e no contexto meteorológico previsto e vivido não tenha sido possível evitar a cheia(?). Por mais que nos atirem explicações é evidente que houve uma gestão incompetente do armazenamento e débito da água do rio e isso teve consequências imediatas de enorme gravidade e de grande preocupação para futuro. Eu, como decerto muitos outros cidadãos, não acredito que não tenha havido incompetência por parte da(s) entidade(s) com responsabilidades e não acredito nas explicações dadas.

É imperiosa uma peritagem feita por técnicos independentes para analisar tudo o que se passou e permitir uma responsabilização exemplar de eventuais comportamentos laxistas e incorretos, sem esquecer a indemnização devida pelos estragos provocados, e ainda uma eventual revisão dos protocolos de atuação, não só para que nos descansem, mas também, se for o caso, para que levem a intervenções corretivas, que coloquem pessoas e bens acima de quaisquer outros interesses.

Por outro lado, não é possível entender o adiamento, ano após ano, do desassoreamento do Mondego, concretamente, entre a Portela e o Açude-Ponte. É que o Açude-Ponte não é apenas um estabilizador do caudal do rio é também uma barreira aos inertes, que aí se vão acumulando, perante uma passividade injustificável e que se assumirá como criminosa no dia em que uma verdadeira catástrofe se abater sobre a Cidade.

Nada disto é alarmismo ou novidade para quem conhece tecnicamente o problema, nem tão pouco para o simples cidadão que percebe perfeitamente que esta é uma situação insustentável e de eventuais graves consequências. Não é tolerável, em nome de Coimbra da sua segurança e do seu futuro, que a entidade – não sei neste momento quem é nem acredito que se venha a assumir e a denunciar – responsável pela intervenção, continue a assistir impávida e serena ao acumular de inertes no leito do rio. Se dúvidas houver perguntem ao Basófias que já, por diversas vezes, demonstrou o insustentável nível de assoreamento do Mondego. 

Tenham respeito pelo Mondego e por Coimbra, e não andem a gozar connosco.

(Artigo publicado na edição de 14 de janeiro de 2016, do Diário de Coimbra)

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