quinta-feira, 28 de abril de 2011

A ARTE DA PRUDÊNCIA - 82



Nunca exaurir nem o mal nem o bem.

Um sábio reduziu toda a sabedoria à moderação em tudo. Exaurir o direito é injustiça, e a laranja que muito se espreme, amarga. Até no prazer nunca se deve chegar aos extremos. O próprio talento se esgota se é axaurido e tirará sangue em vez de leite quem colher como se fosse um tirano.

A Arte da Prudência
Baltasar Grácian

quinta-feira, 21 de abril de 2011

CONTINUO A GOSTAR DE CRAVOS VERMELHOS, PÁ!


Sinto-me cercado de escritas temáticas e repetitivas e, por isso, tenho a sensação que tudo está diariamente dito.

A angústia da sabedoria tornou-se assim dolorosa. Todos sabem de tudo. Todos sabem tudo. Todos sabem tudo sobre o mesmo. Todos são categóricos. Todos têm certezas. Todos têm verdades absolutas.

Não me deixam uma ponta de dúvida com todas as contradições com que me confrontam.

Por tudo isto, porquê ter o cansaço de reflectir?

Os fóruns radiofónicos e televisivos são não só encontros de ódio de todos os puros e bons, como momentos de profunda sabedoria sobre a causa das coisas e sobretudo de soluções para todos os males. Sinto-me verdadeiramente esmagado.

Todos os que não queriam há algum tempo um governo de maioria política hoje querem uma maioria alargada. Todos os que desejavam a clarificação política hoje professam o desejo de um cocktail partidário. Todos os que não salvaram as velhinhas de serem atropeladas na passadeira hoje sabem como salvar o país, a Europa e o mundo.

Reconheço-me exausto com tantos números, medidas, políticas e, sobretudo, com tantos salvadores.

Não sei o que faça ou o que possa fazer no meu quotidiano apagado de cidadão comum que vê surgirem sábios a cada esquina. Aliás, a minha dificuldade está em descobrir os outros homens comuns com quem me cruzo e que ainda conseguem sonhar ou ir trabalhar.

Não pude escolher o tempo nem o local onde nasci e agora nem posso escolher o meu futuro. Está tudo decidido. Pedem-me, tão só, que daqui a dias vá confirmar as escolhas. Escolhas que não são as minhas mas que afirmam eu ter de validar para continuar a existir como cidadão.

Reconheço que cheguei ao tempo dos sábios, de todos os sábios, que num momento particular se congregaram neste canto da Península Ibérica e que me tenho de deixar ir pela sua mão… Negam-me alternativas.

Até acabaram com as distinções semânticas e uma hierarquia de valores republicanos.

Devo estar doente. Continuo a gostar muito de cravos vermelhos, pá!