Sinto-me cercado de escritas
temáticas e repetitivas e, por isso, tenho a sensação que tudo está diariamente
dito.
A angústia da sabedoria tornou-se
assim dolorosa. Todos sabem de tudo. Todos sabem tudo. Todos sabem tudo sobre o
mesmo. Todos são categóricos. Todos têm certezas. Todos têm verdades absolutas.
Não me deixam uma ponta de dúvida
com todas as contradições com que me confrontam.
Por tudo isto, porquê ter o
cansaço de reflectir?
Os fóruns radiofónicos e
televisivos são não só encontros de ódio de todos os puros e bons, como
momentos de profunda sabedoria sobre a causa das coisas e sobretudo de soluções
para todos os males. Sinto-me verdadeiramente esmagado.
Todos os que não queriam há algum
tempo um governo de maioria política hoje querem uma maioria alargada. Todos os
que desejavam a clarificação política hoje professam o desejo de um cocktail
partidário. Todos os que não salvaram as velhinhas de serem atropeladas na
passadeira hoje sabem como salvar o país, a Europa e o mundo.
Reconheço-me exausto com tantos
números, medidas, políticas e, sobretudo, com tantos salvadores.
Não sei o que faça ou o que possa
fazer no meu quotidiano apagado de cidadão comum que vê surgirem sábios a cada
esquina. Aliás, a minha dificuldade está em descobrir os outros homens comuns
com quem me cruzo e que ainda conseguem sonhar ou ir trabalhar.
Não pude escolher o tempo nem o
local onde nasci e agora nem posso escolher o meu futuro. Está tudo decidido.
Pedem-me, tão só, que daqui a dias vá confirmar as escolhas. Escolhas que não
são as minhas mas que afirmam eu ter de validar para continuar a existir como
cidadão.
Reconheço que cheguei ao tempo
dos sábios, de todos os sábios, que num momento particular se congregaram neste
canto da Península Ibérica e que me tenho de deixar ir pela sua mão… Negam-me
alternativas.
Até acabaram com as distinções
semânticas e uma hierarquia de valores republicanos.
Devo estar doente. Continuo a
gostar muito de cravos vermelhos, pá!