Este
é o tempo de todos os balanços, mesmo para contabilistas leigos. Quer se queira
quer não, por hábito ou convenção, somos chamados a fazer balanços das glórias
e misérias que nos aconteceram, sempre que um ano acaba.
Claro
que já se esqueceu muito do que aconteceu e que nos deu uns dias tristes e
melancólicos e outros felizes e eufóricos. Mas cada qual sabe de si e eu não me
vou meter na vida de ninguém, nem vou trazer para aqui as horas que perdi de
forma irreparável a fazer coisas para as quais agora não consigo encontrar
pleno sentido. Deixo aos pacientes e benévolos leitores desta coluna a
responsabilidade de se inventariarem e assumirem os seus deve e haver de mais
um irrepetível ano de vida.
Não
resisto, contudo, na minha solidão cívica e armado da afirmação de Torga de que
“só depois de se ser autêntico se é livre”, dar conta de que este ano que agora
acaba ainda não foi o ano radioso e especial que Coimbra tanto desejava. Apesar
do sol abundante houve um cinzentismo pesado que continuou a pairar sobre a
cidade.
É
verdade que se tornou patente a vontade de melhorar estética e funcionalmente
espaços públicos e houve pequenas/grandes intervenções que contribuem para melhorar
a qualidade de vida dos cidadãos, e que também aconteceram e vão acontecendo coisas
interessantes nas mais diversas áreas da vida coletiva, mas, sinceramente,
continua a faltar qualquer coisa. Será visão, criatividade, planeamento,
marketing? Não sei, mas que falta, falta! Por mais que se tente não se sente o
élan coletivo que permita acabar com o triste desperdício do enorme potencial
da cidade.
Porque
há um novo ano à espreita, cheio de futuro, talvez um apelo ao divino. Esperar que
apareça um “Bardo dos tempos novos, anunciando verdades”, como Eça viu em
Antero, naquela noite macia de Abril ou Maio, nas escadarias da Sé Nova e o
levou a criar o mito do Santo Antero.
Também
invocar a nossa Padroeira para que floresçam parques, rotundas e separadores –
talvez com roseiras várias –, porque a cidade precisa da cor e do perfume
natural da bela mulher que sempre foi.
Mais,
que São Francisco interceda para que o seu Convento abra definitivamente as
portas e que o abençoe para que não se fique por uma franciscana pobreza
cultural mas que o transforme num instrumento de elevação do orgulho e da
riqueza cultural de Coimbra e da Região Centro e da sua projeção a todos os
níveis.
Finalmente,
permitam-me mais uma prece. Rogo a Santa Cecília, Padroeira dos Músicos, para
que faça o milagre de convencer os “maestros” da cidade a proporem à UNESCO,
Coimbra como Cidade da Música.
Santo
2016!
(Artigo publicado na edição de 31 de
dezembro de 2015, do Diário de Coimbra)
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