Durante
muitos séculos persistiu a crença de que os cogumelos eram obra do demónio ou
de bruxas dado que apareciam de um dia para o outro sem se conhecer sementeira.
Hoje sabemos que não é assim mas enfrentamos outras perturbadoras incógnitas, é
que como os cogumelos no momento seguinte às eleições aparecem profetas, magos
e notários políticos que convictamente reescrevem o passado, escrevem o futuro
e torturam-nos com visões apocalípticas.
Claro
que podemos sempre ver isto numa perspetiva lúdica e até nos divertirmos,
porque estes são os dias em que se solta o analista e o comentador político que
há em cada um de nós, contudo, por vezes não é fácil um sorriso pelo atrevimento
e despudor de alguns.
Interessante
é que depois de uma campanha em que acima de tudo se discutiu e acusou o PS, se
continue a discutir e a tentar condicionar o PS. Parece estar em marcha a fase
2 de um processo tendente ao seu assassinato pasokiano - patrocinado pelos
mesmos e com a prestimosa colaboração de alguns distintos camaradas sempre
prontos para a luta nestas ocasiões -, enquanto nos gabinetes da coligação se
respira uma serena e tranquila brisa e se dá forma a um programa de governo que
é filho de uma proposta eleitoral desconhecida mas maioritariamente sufragada.
Depois
de uma campanha eleitoral que veio confirmar que a omissão compensa e que à
esquerda não há qualquer hipótese de coligação de poder, graças às teias que a
própria esquerda teceu e que serão agora complementadas com os habituais
truques dos desafios retóricos, a direita almoçará em paz e jantará em sossego.
Direita que se prepara para se deliciar, na sequência das presidenciais, com as
trufas da próxima primavera, que os romanos acreditavam eram obra dos
relâmpagos que atingiam a terra.
Fazer
do PS o inimigo principal, por razões de sobrevivência ou de aproveitamento
circunstancial, durante toda uma campanha e vir agora, passados dois dias,
torná-lo no bom amigo soa demasiado a falso e parece politicamente pouco
inteligente. É, aliás, uma forma rápida e mortal de inviabilizar qualquer
verdadeira convergência política.
Vivemos
tempos politicamente muito interessantes e desafiantes que vão permitir
distinguir a ingenuidade da inconsciência e a sinceridade do oportunismo e ver
até que ponto os históricos e dramáticos bloqueios à esquerda são passíveis de
superação tendo em conta o contexto europeu e a lição Grega.
É
que mesmo num processo de alzheimer político a degradação da memória recente
não pode ser tão rápida e há todo um processo de confiança que é preciso criar,
o que leva o seu tempo.
Antes
de novas propostas façam favor de contar até dez.
(Artigo
publicado na edição de 8 de outubro, do Diário de Coimbra.)
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