1. As campanhas eleitorais trazem-me sempre a dúvida sobre as
minhas reais capacidades intelectuais. Confesso que são alturas de desconforto
em que questiono o meu QI (Quociente de Inteligência) perante as estratégias
adotadas para suscitar a adesão dos eleitores e conquistar votos.
É
sabido que para atrair os eleitores é necessário conjugar um discurso
simultaneamente idealista e egoísta. “As pessoas não gostam de se ver tais
quais são e de permanecer na situação em que o destino as colocou; têm
necessidade de que lhes seja devolvida uma imagem que transcenda as suas vidas
e a estreiteza das suas preocupações”, in “Maquiavel em Democracia”, de Edouard
Balladour.
Ora,
ao que se assiste não é a uma estratégia neste sentido mas sim à propagação do
medo como método, o que mais não faz do que levar ao afastamento dos eleitores e
consequentemente à abstenção, transformando-a no terceiro partido mais “votado”,
com prejuízo democrático para todos.
2. Uma outra estranha tendência que se vem acentuando, para
mais num tempo em que é cada vez mais fácil escrutinar passados e palavras, é a
do aumento exponencial da mentira. Esta é uma capacidade que vem sendo
reciprocamente treinada por candidatos e eleitores. Se os candidatos têm de
fazer “sonhar” os eleitores, estes, perante dias, meses e mesmo anos de dura
realidade e de assumirem desabafos e contundentes contestações, chegados a este
momento parece, num número inexplicável, quererem cair de novo na armadilha da
mentira.
É
um jogo de enganos nada saudável, que acaba por trazer para o tabuleiro das
decisões políticas uma perspetiva falsa de projeto coletivo e uma ideia de país
das mentiras em que ninguém parece saber verdadeiramente o que quer.
3. Não há dúvida que a indústria das sondagens tem picos de
produção acentuada na altura das campanhas eleitorais. Hoje, com sondagens
quase hora a hora – o que em termos de negócio é deveras interessante –, não é
possível deixar de manifestar preocupação quanto à sua fiabilidade e às
consequências que representam. Parece que estão a sondar de mais e,
consequentemente, por um lado a banalizar a sua importância e por outro a
permitir acentuar a ideia de que há um perverso jogo de obscuras influências
que condiciona e perverte o jogo democrático.
(Artigo
publicado na edição de 24 de setembro, do Diário de Coimbra)
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